2014-08-13
Comecei a gostar
da escrita de Maria Teresa Horta através da obra “As Luzes de Leonor”, mas,
comecei a apaixonar-me pelo que Maria Teresa escreve a partir deste excerto,
porquê? Porque me identifico totalmente com este “CADERNO”, eu sou assim:
CADERNO
Não gosto, não
aceito, não consinto: o torpe, o mal à minha beira. A hipocrisia, a intriga e o
acinte. O medíocre, o parco, o muito que escasseia.
Não aceito, não
permito: o limite, a turvação do zénite. O déspota, o carrasco, os becos sem
saída. O nocivo, o medo desprendido, a luz a perder-se tendo ao fundo as
trevas.
Não gosto, não
aceito, não consinto: obrigar-me áquilo que me impõem, ser avesso de mim,
vender a alma. Pois tudo no moldar-me não me acalma.
Não aceito, não
consinto, não suporto: espartilhos, carmim, brandos feitiços. As cabeleiras, as
faces mosqueadas. Cabelos e sinais postiços.
Não gosto, não consinto,
não aceito: o negrume, a obediência cega. O torpor, a ignorância, o perdimento.
O conivente acato onde me prenda e em seguida, só, logo me perca.
Salvaterra, 1 de
Março de 1780.
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