domingo, 19 de agosto de 2018

Um Museu das Descobertas?

"As descobertas trouxeram precisamente isto: um homem novo, curioso de ver e registar o que via ("Vi claramente visto o lume vivo"), rejeitando as "escrituras" e atento apenas à "natura."
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Com as Descobertas, o mundo do conhecimento alargou-se enormemente e afirmou-se decisivamente uma nova forma de adquirir esse mesmo conhecimento: não, glosando textos antigos e obsoletos, mas, antes, vendo, muito claramente e muito criticamente, o que ali estava para ser visto.
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Venha, pois, sem complexos de culpa ridículos, um bom Museu das Descobertas, que testemunhe, com vigor, aquela aventura humana tão prenhe de consequências."

Eugénio Lisboa, in Pro Memória, JL nº 1249 (pág. 25)

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Livro: Despenteando Parágrafos, Onésimo Teotónio Almeida, Quetzal, 2015.

Ontem à noite terminei a leitura desta obra, uma compilação de crónicas e textos escritos e lidos, porque alguns deles provêm de comunicações realizadas pelo seu autor em conferências e seminários, à roda de «polémicas suaves» com pensadores e escritores portugueses.

Onésimo Teotónio Almeida é natural dos Açores mas reside nos Estados Unidos desde 1972, doutorou-se em Filosofia pela Universidade de Brown (Providence, Rhode Island) e é catedrático no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, na mesma universidade.

Conheço Onésimo Teotónio Almeida de outras leituras, nomeadamente das crónicas no JL e da leitura de Quando os Lobos Uivam (2013).

Aprecio a sua forma de escrever, em linguagem acessível Onésimo expõe as suas ideias e pontos de vista de uma forma clara e perfeitamente entendível a todos aqueles que buscam o conhecimento, independentemente das suas origens culturais e educacionais, o que não deixa de surpreender considerando estarmos em presença de um académico de uma das melhores universidades do mundo, numa área, a filosofia, sempre dada a discursos de difícil entendimento. Certamente que Onésimo em contexto académico utiliza uma linguagem mais técnica, mas o mesmo conceito de «ideias claras e distintas» (p. 11), acompanha-o.

Sinto-me gratificada com leitura deste livro, afinal estou mais habituada a escritas herméticas por parte daqueles que julgando-se acima dos comuns dos mortais apenas por terem tido a oportunidade de adquirir estudos superiores, expressam-se de uma forma ininteligível, baça e a mais da vezes oca.

O título deste livro advém, segundo Onésimo, da expressão «pentear parágrafos» descrita num livro de José Cardoso Pires, de quem o autor é apreciador.

Despentear, descomplicar, expondo de uma forma clara e fundamentada as suas ideias e polemizando pontualmente com Camilo Castelo Branco, Miguel Torga, Jacinto do Prado Coelho e Natália Correia, ou com quem escreveu sobre Virgílio Ferreira, Eduardo Lourenço e José Saramago, é o objetivo de Onésimo Teotónio Almeida com este seu Despenteando Parágrafos.

Com esta leitura aprendi muito, despertou-me para outros saberes, autores e polémicas.

Para terminar e como curiosidade, finalmente compreendi o que é a Ivy League: um conjunto de oito universidades norte-americanas muito prestigiadas, criada «como defesa contra a admissão de alunos-desportistas sem mérito académico» (p. 360). A Universidade de Brown é a sétima mais antiga universidade norte-americana e integra a Ivy League.

Recomendo vivamente a leitura de Despenteando Parágrafos…