quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Bom dia, viva a República!

 Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal

são lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão choraram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena 

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador 

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu

Mas nele é que espelhou o céu.


Fernando Pessoa 

in Mensagem, Guerra e Paz Editores, SA (2018:70)

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

in Poemas Escolhidos de Álvaro de Campos - Tabacaria

 O circo pode estar a arder, mas hoje passei um dia super agradável: falei com a minha filhota de Paris, comprei os bilhetes para ir visitar minha mãe e estive a ler Fernando Pessoa:

“Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”

Fernando Pessoa 

in Poemas Escolhidos de Álvaro de Campos - Tabacaria, Assírio & Alvim (2013:103)



sábado, 9 de setembro de 2023

in Rua de Paris em Dia de Chuva, D. Quixote (2020:133)

“E distraiu-se a pensar que é por isso que vale a pena escrever livros, para poder conversar à distância com aqueles que amamos e que não são do nosso tempo.”

Isabel Rio Novo 

in Rua de Paris em Dia de Chuva, D. Quixote (2020:133)



domingo, 6 de agosto de 2023

in Quotidiano Instável-Crónicas (1968-1972), por MTH, (25-09-1968), pág 88.

 “A mulher estendeu o braço e sentiu o corpo dele imóvel, adormecido. Olhou o negrume abafado do quarto e tornou a fechar os olhos, inquieta como sempre que acordava assim no escuro: era como se estivesse cega. A sua mão desceu tépida ao longo do corpo dele, um corpo adormecido, sem rosto, sem identidade, perdido no vácuo da noite. E aquele corpo magro tomou a possuí-la como horas antes; estremeceu arrepiada e o sono desapareceu por completo.”


in Quotidiano Instável-Crónicas (1968-1972), por MTH, (25-09-1968), pág 88.

in Quotidiano Instável - Crónicas (1968-197Teresa Horta (2019, 82:83).

 “Mas era a mulher que dominava a tarde, bem firme nos seus grandes pés duros e nas suas pernas musculosas, magras. Era a mulher que dominava o tempo com o movimento flexível do seu corpo harmonioso e tenso nas suas ancas escorridas, nas ilhargas de aço, no ventre plano, nos flancos estreitos, nos seios encobertos pela blusa amarela, suja.”


in Quotidiano Instável - Crónicas (1968-1972), por Maria Teresa Horta (2019, 82:83).