quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Livro: Orlando – uma biografia, Virginia Woolf, Biblioteca Editores Independentes, 2007.


Decorreram 11 anos desde a data de aquisição desta obra de Virginia Woolf (1882-1941). Terminei a sua leitura ontem à noite.

De Virginia Woolf (VW) só havia lido Rumo ao Farol (Relógio D'Água), fora-me recomendada a sua descoberta por uma querida amiga. Gostei muito e ficou a promessa de retornar à sua obra.

Orlando é um livro singular e curioso, supostamente é uma biografia, mas, mais parece uma sátira aos biógrafos e aos biografados. VW dedica esta espécie de biografia a uma amiga e amante proveniente das mais nobres famílias inglesas, Vita Sackville-West,  

O personagem principal representa um nobre inglês e retrata a sua vida durante um período de quase quatrocentos anos, sim, leram bem, 400 anos, Orlando, por descender de famílias antigas conviveu com muitos reis e rainhas ingleses: Isabel, Jaime, Carlos, Jorge, Vitoria e Eduardo, mas o personagem Orlando só atinge a idade de 34 anos, em 1928, o limite temporal.

Entre outras singularidades, Orlando foi embaixador na Turquia, um dia adormeceu homem e acordou mulher, a partir desta condição VW explora e disserta sobre as duas formas de sentir, de ser e de representação na sociedade das mulheres e dos homens, numa escrita muito lírica e a meu ver muito bela.

“…Orlando poderá agora ter chamado o rapaz que derrubou a cabeça do negro; o rapaz que tornou a suspendê-la do tecto; o rapaz que se sentou alto do monte; o rapaz que viu o poeta; o rapaz que ofereceu à Rainha a taça de água de rosas; ou poderá ter chamado o jovem que se enamorou de Sasha; ou o cortesão, ou o embaixador; o soldado; ou o viajante; ou poderá ter preferido convocar a mulher; a cigana; a grande dama; a eremita; a rapariga apaixonada pela vida; a padroeira das Letras; a mulher que chamava por Mar (evocando banhos quentes e lareiras acesas ao serão) ou por Shelmerdine (evocando açafrões nos bosques outonais) ou por Bonthrop (evocando a morte que todos os dias morremos) ou por todos três ao mesmo tempo – evocando tantas coisas que aqui não temos tempo para as descrever – todos eram diferentes, e ela poderá ter evocado qualquer deles.”

São muitas as vidas e os eus criados por VW, através de Orlando fiquei com a impressão que todos poderíamos ser homem e mulher sendo um só.

Gostei mesmo muito de ler e sonhar através de Orlando, recomendo vivamente a sua leitura…


terça-feira, 2 de outubro de 2018

Livro: O Santinho, Georges Simenon, Relógio D’Água, 2018.


A minha hora para almoço muda semana sim semana não, habitualmente almoço numa sala disponibilizada pelo serviço para o efeito, umas vezes "ponho" a mesa, aguardo pelo Luis e aproveito a espera para ler; outras vezes ele chega, almoçamos e vamos para o jardim em frente, sentar-nos a olhar o mar, a ver quem passa, a conversar e a ler…

Hoje foi assim, com o JL, que chegou hoje, a Visão e o Santinho, de Georges Simenon, tudo debaixo do braço, lá fomos nós sentar-nos de frente para o mar e de costas para a cidade. Conversamos, ele leu a Visão e eu concluí as duas últimas páginas que faltavam de O Santinho, a minha primeira leitura de G. Simenon.

Georges Simenon (1903-1989), foi um escritor muito prolífero, a sua criação mais famosa foi o Comissário Maigret e muitos dos seus livros foram adaptados ao cinema.

O Santinho é um marco na obra de Simenon. O Livro é um ponto de viragem para o autor, pois é a primeira vez que retrata a vida como algo que se desenvolve serenamente sem ameaças de desintegração.”

Com uma escrita fluída mas muito cuidada, as 179 páginas que compõem este livro, leem-se de uma assentada, quase sem respirar. 

Gostei muito de conhecer G. Simenon e da história de O Santinho, recomendo vivamente a sua leitura…