terça-feira, 24 de abril de 2018

Livro: Mau Tempo no Canal, Vitorino Nemésio, Coleção BIS, Leya, 2014

Um dia após celebrar o Dia Mundial do Livro, termino a leitura de um romance magistral: Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio.
Nunca estive em qualquer uma das nove ilhas que constituem o Arquipélago dos Açores, porém, a escrita de Vitorino Nemésio ao permitir-me vislumbrar o sentir e viver daquelas gentes algo estranhas pela relação simbiótica que mantém com a natureza e com o mar, leva-me a considerar seriamente efetuar uma visita às Ilhas Mistério. Iniciava a minha descoberta pela ilha do Faial, seguia-se o Pico, S. Jorge e só depois, a Terceira, S. Miguel, etc., etc.
Este romance é um verdadeiro retrato de um povo singular, moldado pela natureza e pelas duras condições de vida. Tal como o povo madeirense, os açorianos sempre viram os melhores pedaços de chão, tomados pelos ingleses e pelos flamengos. Desconhecia totalmente que a peste ainda grassava naquelas Ilhas no início do séc. XX! Atingia sobretudo os mais pobres, mas chegava de quando em vez aos mais abastados.
Depois de lermos este romance compreendemos perfeitamente a diáspora açoriana.
Antero de Quental, poeta maior açoriano, em 1874, referia assim um provérbio e não só, em carta dirigida a Oliveira Martins: 

«S. Miguel, burgueses ricos; Terceira, fidalgos pobres; Faial, contrabandistas espertos». “Com efeito, a Terceira é uma terra essencialmente portuguesa e peninsular: fidalguia, pobreza, toiros, insouciance sóbria e filosófica, entusiasmo, bizarria e parlapatice: numa palavra, os defeitos e as qualidades correspondentes do idealismo peninsular.

Um romance extraordinário, com personagens vivas de todas as classes sociais, que se entrecruzam com natureza, essencialmente com o mar, o Canal, a pesca da baleia, o Pico, o vulcão, a lava, as vinhas.
Gostei muitíssimo desta estreia com Vitorino Nemésio e recomendo vivamente a todos aqueles que pretenderem visitar as Ilhas, que previamente leiam este romance. Aqueles que já conhecem as Ilhas, leiam Mau Tempo no Canal e um novo olhar se abrirá à vossa frente…



quinta-feira, 5 de abril de 2018

Afonso Cruz, in JL

Qualquer bom leitor, quanto maior for a sua biblioteca, mais sente o peso esmagador do que leu, e, principalmente, do que não leu e nunca poderá ler.