terça-feira, 15 de outubro de 2019

Livro: A Paixão segundo Constança H., Maria Teresa Horta, D. Quixote, 2018.


Leio sempre com sofreguidão as obras de Maria Teresa Horta (1937-), a sua poesia e sobretudo a sua prosa são gritos de dor ou gemidos de prazer, são denúncias de maus tratos ou exaltações de paixão eterna, anseio por chegar ao fim ou desejo que a leitura se prolongue até ao infinito.

A escrita de Maria Teresa é um sobressalto constante, estonteia-nos, ora nos eleva ao céu, como nos obriga a descer ao inferno.

Foi o que aconteceu com a leitura da obra, A Paixão segundo Constança H.:

Quando Henrique H. lhe dá a conhecer a sua traição, a paixão de Constança transfigura-se. Em tempos que se desdobram e sobrepõem, chegam-lhe do passado as queixas de uma trisavó sobre o marido todo-poderoso, ao passo que da infância revive com nitidez os momentos mais dolorosos: o abandono pela mãe, a sua primeira paixão, quase seguido da trágica morte da avó, fonte única de afeto e segurança. O desejo de vingança vai-se assim alimentando num clima obsessivo de loucura, sangue e morte.”

Esta leitura recordou-me outra que fizera há uns bons anos, uma biografia de Maria Adelaide Coelho da Cunha, por Manuela Gonzaga (Círculo de Leitores, 2009):

 Doida Não e Não” é um grito que atravessa os tempos, uma história de vida traçada com um grande rigor histórico, solidamente ancorada em documentação coeva. Estamos nos anos vinte, quando o princípio da liberdade de imprensa se assumia em Portugal, uma conquista que só será renovada em 1974. Mas este retrato biográfico da «senhora de São Vicente», filha mais velha e herdeira do fundador e coproprietário do Diário de Notícias, o jornalista Eduardo Coelho, e mulher de Alfredo da Cunha, também jornalista, é, acima de tudo, o testemunho da vontade indómita de uma mulher que tudo arriscou por amor. E que, quando todas as outras lhe foram retiradas, recorreu à mais letal das armas: a palavra escrita.”

Os livros são assim, a leitura de uns conduz-nos a outros, numas vezes que já lemos, noutras que queremos ainda ler.

Para finalizar, convido-vos a ler as duas obras: A Paixão segundo Constança H, de Maria Teresa Horta e Doida Não e Não, de Manuela Gonzaga.



A Granta em Língua Portuguesa já chegou, o tema é o Cinema...



O JL chegou na segunda-feira...


segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Livro: Adoecer, Hélia Correia, Relógio D’Água, 2011.


Prosseguindo com o meu plano de leituras no feminino, aproveitei hoje a pausa do almoço para concluir a leitura deste extraordinário e muitas vezes desconcertante romance de Hélia Correia (1949-), Adoecer.

Da autora já havia lido Lillias Fraser, um romance que nos transporta para tempos de guerra e de catástrofe natural, acontecimentos, uns provocados pelos homens outros pelos deuses, todos eles transformadores da realidade, dos territórios e dos seres que os habitam.

Em Adoecer, Hélia Correia (Prémio Camões 2015), conduz-nos à génese de um grupo artístico dedicado sobretudo à pintura, fundado em Inglaterra, em 1848 e auto-denominado Irmandade Pré-Rafaelita. A partir de factos, a escritora ficciona as vivências, os amores e os desamores de um grupo de artistas que desejavam construir uma corte que fugisse do cânone vitoriano, pintando, escrevendo e amando livremente.

Inseridos no espírito revivalista romântico da época, os pré-rafaelitas desejam devolver à arte a sua pureza e honestidade anteriores, que consideravam existir na arte medieval do final do Gótico e do início do Renascimento.
Ao se autodenominarem pré-rafaelitas realçavam o fato de se inspirarem na arte anterior a Rafael artista que tanto influenciou a academia inglesa e que era consequentemente criticado pelos pré-rafaelitas.”

Um romance de exigente leitura, mas compensador, pelo que nos faz refletir e sonhar.
Por fim, convido-vos a descobrirem a escrita de Hélia Correia…


Revista LER Verão 2019.