domingo, 31 de dezembro de 2017

Livro: Os Maias, Eça de Queirós, Círculo de Leitores, 1978.

Esta madrugada terminei a leitura deste notável romance de Eça de Queirós, sendo um livro de leitura de estudo obrigatório é por isso, mal-amado por muitos estudantes do ensino secundário, é um romance com muitas páginas, complexo, mas também muito completo do ponte vista da sintaxe, possui uma escrita límpida e clara e mais do que uma estória de amor, traça um retrato fiel e irónico, da sociedade portuguesa, especialmente da lisboeta, na segunda metade do XIX.
As classes sociais e políticas, as convenções sociais são aqui esmiuçadas e retratadas de uma forma impiedosa e sarcástica.
Através dos personagens que criou e que passam diante dos nossos olhos, fiquei fã do João da Ega, conseguimos compreender porque este é o Romance que todos os estudantes devem ler e desfrutar.

Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva  que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada a recear… Não se abandonar a uma esperança – nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo… Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.
Ega, em suma, concordava. Do que ele principalmente se convencera, nesses estreitos anos de vida, era da inutilidade de todo o esforço. Não valia dar um passo para alcançar coisa alguma na Terra – porque tudo se resolve, como já ensinar ao sábio do «Eclesiastes», em desilusão e poeira.

É um romance intenso, de leitura fácil, uma estória de uma atualidade desconcertante, não temam, mergulhem na leitura de Os Maias e não se vão arrepender, bem pelo contrário...


sábado, 9 de dezembro de 2017

Livro: Lápides Partidas, Aquilino Ribeiro, Círculo de Leitores, 2008.

Terminei há pouco a leitura de mais um romance de Aquilino Ribeiro (AR), já lá vão quatro e tenho ainda o triplo para desfrutar.

Gosto de regressar a AR, sinto mesmo uma certa necessidade intelectual e literária de continuar a descobrir os nossos clássicos, pela sua forma plástica de nos transmitir ideias e acontecimentos, pela sua intemporalidade, infelizmente nem sempre pelas melhores razões.

Dos romances que li de AR, Lápides Partidas é o primeiro cuja ação decorre maioritariamente em Lisboa, mercê da vinda para a cidade de Libório, o personagem à volta do qual se desenvolve toda a trama. Libório, é um jovem homem, cheio de ideais republicanos que vem para a capital à procura de trabalho e sobretudo anseia participar na ação revolucionária de derrube da monarquia vigente.

O romance permite-nos compreender o estado em que se encontrava o país, política, económica e socialmente, é um retrato de um país pobre, atrasado, um quase salve-se quem puder.

Libório questiona-se, quando já no final, foge do país tendo como objetivo chegar a Paris, para tal passa a fronteira em direção ao país vizinho e sente logo a diferença:

(...) Era Espanha, gente de Espanha; outra louça.
(...) Lá está Aldeia del Obispo ao fundo da encosta, saraivada de branco … e um aspecto sério de aglomeração ordenada e progressiva; lá estão sulcando o céu claro, como as linhas de papel de música, suspensos de paralelogramos certos e espaçados – os paralelogramos da civilização – os fios da electricidade, do telefone, do telegrafo.
(...) Porquê? Porque é que esta má sina persegue ao «triste do lusíada, coitado» Não sei. Mas uma das ilações a tirar será esta: desde tempos imemoriais que andam falseadas nesta terra as barras de comando. A tragédia de Fevereiro [assassinato do rei e do príncipe] tem de ser vista à luz pavorosa deste prisma.

E termina, concluindo, este notável romance:

E a que luz as outras realidades? Sim, porque a gente da minha terra, eu, meus pais, os cavadores, os meus amigos, o meu espírito, o nosso espírito correm mundo sob um manto de desdita e menoscabo!”

É uma aprendizagem permanente e prazerosa, sobretudo em termos linguísticos, ler Aquilino Ribeiro!

Recomendo vivamente que partam à descoberta dos nossos clássicos…


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Livro: Eusébio Macário, Camilo Castelo Branco, Casa de Camilo/Alêtheia Editores/Expresso, 2016.

Em boa hora o semanário Expresso, em parceria com a Casa de Camilo e a Alêtheia Editores, resolveu publicar durante o Verão de 2016, um conjunto de 6 títulos, todos de Camilo Castelo Branco, uma pequena coleção em que cada livro é prefaciado por outros tantos escritores contemporâneos.
Do escritor li há muitos anos, pois claro, o Amor de Perdição e mais recentemente A Queda de Um Anjo. Com esta coleção espero ficar a conhecer um pouco mais de um escritor que a par de Eça de Queiroz e de Aquilino Ribeiro, faz parte do nosso Panteão.
Da coleção comecei e já terminei a leitura de Eusébio Macário, com prefácio de A. M. Pires Cabral, poeta e escritor. Um romance com pouco mais de 100 páginas, muito interessante e que de acordo com o próprio, Camilo pretendeu com este livro divertir os seus leitores, fugindo do género novelista a que os habituara.
Camilo Castelo Branco escrevia sobre a sociedade do seu tempo, e escreveu muito, foi um escritor prolífero.
Gostei de ler Eusébio Macário e ainda tenho mais 5 romances de Camilo Castelo Branco para ler. Ainda bem.

Recomendo que leiam…


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Livro: A Escada de Istambul, Tiago Salazar, Oficina do Livro, 2016.

Durante a hora do almoço, mas antes de almoçar, terminei a leitura de A Escada de Istambul, um livro simpático com uma história muito curiosa.
A saga de uma família de judeus sefarditas andando em bolandas pela Europa, de cidade em cidade até ao extermínio em Auschwitz.
Esperava mais do livro, procurava respostas, o porquê do ódio, do desprezo, mas também da inveja e do ciúme que sempre acompanharam os homens, as mulheres e as crianças que professam a religião judaica. Eles consideram-se um povo, outros atribuem-lhes uma raça. Eu vejo-os como homens, mulheres e crianças que possuem uma religião, uma cultura, uma identidade própria.
Este livro não me elucidou nem me sossegou o espírito. Fiquei a saber que existiu uma família Camondo, que foram comerciantes muitíssimo abastados, que tentaram deixar por onde passaram um legado de educação e conhecimento, de cultura e um património riquíssimo.
Tudo o que faziam nunca foi suficiente para agradar aos outros, mais se fechavam nas suas conchas. Acho que ainda é assim.
Como literatura soube a pouco, vejo-o como um tributo romanceado, de acordo com o escritor baseado em informações recolhidas junto de duas senhoras biógrafas que identifica.

Só posso recomendar que leiam A Escada de Istambul e tirem as vossas conclusões…


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Livro: La Coca, J. Rentes de Carvalho, Quetzal, 2011

Um romance cujo título é La Coca e que começa assim: “O funcionário da alfândega não sabia disfarçar.” teria mesmo que despertar a minha atenção e curiosidade. 
 
Sou funcionária aduaneira, gosto da escrita de Rentes de Carvalho, não foi preciso inventar mais nada para trazer o romance para casa.
 
Tal como a maioria dos portugueses descobri José Rentes de Carvalho há poucos anos; apesar da sua provecta idade, Rentes de Carvalho nunca foi um escritor muito estimado, as razões para tal ter acontecido não importa agora esmiuçar.
 
Prefiro escrever sobre o romance que terminei de ler. Como poderia deixar entender pelo título, o romance debruça-se sobre droga, mas não só e nem da forma a que estamos habituados. Rentes de Carvalho autobiográficamente escreve sobre as formas enviesadas e de sobrevivência que os seus conterrâneos sempre tiveram para conseguir sobreviver no interior pobre e sempre esquecido do nosso país. 
 
Antes, durante e após as duas Grandes Guerras, o meio de subsistência de muitos habitantes rurais, sobretudo aqueles que viviam nos dois lados da fronteira, foi o contrabando de quase tudo: cigarros, uísque, barras de ouro, gado, café, azeite, bacalhau, enfim, tudo o que desse dinheiro.
 
Rentes de Carvalho, filho de um inspetor da alfândega, viveu e cresceu no ambiente e teve como amigos de infância e adolescência, muitos filhos e futuros contrabandistas. Mais tarde, bastante mais tarde, resolve escrever sobre essas memórias e regressa à sua terra a fim de saber do destino desses amigos e conhecidos.
 
Descobre que o mundo do contrabando mudou muito, agora é a droga, a mercadoria rainha e aquela que maiores lucros traz, mas, vem acompanhada com mais violência, sangue, morte, vingança.

Como atrás referi, gosto da escrita, seca, direta, objetiva, forte, de José R. de Carvalho, como ainda possuo três títulos do autor para ler, seguramente irei regressar ao seu convívio, para já, limito-me a recomendar a sua leitura…



sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Livro: Poética, Aristóteles, tradução e notas de Ana Maria Valente, 5ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, 2015

Em dia aziago tento escrevinhar algumas palavras sobre a minha insólita leitura, não sei o que me deu, comecei por ler, duas vezes, o prefácio deste texto clássico de autoria da helenista Maria Helena da Rocha Pereira, depois tentei desbravar o texto que de acordo com a insigne académica, “toda a teoria literária ascende”.
É de facto um texto extraordinário, data de cerca de IV a. C, “…em data difícil de precisar, é sobretudo ao período áureo da Tragédia Ática, ou seja, ao século anterior, que ele se reporta, e aos Poemas Homéricos, quanto à Epopeia. O que significa que o leitor tem diante de si a primeira grande teorização sobre algumas das mais altas realizações da Poesia.”
O texto pode dividir-se em três partes principais: “uma de introdução em que a mimesis [imitação] surge logo como o conceito fundamental em que assenta a actividade poética (…); outra sobre a tragédia (…); e outro ainda sobre a epopeia (…).”
Neste “pequeno” texto, Aristóteles refere para exemplificar e analisar, as epopeias e as tragédias escritas por Homero, Platão, Sófocles, Eurípedes, Ésquilo, dos quais nos chegaram obras intemporais e ainda outros autores, dos quais apenas chegaram aos nossos dias fragmentos ou mesmo nada.
Depois de terminar a leitura do texto e da perfusão de notas que a tradutora Ana Maria Valente, incluiu em rodapé, de modo a ajudar a situar os leitores como eu, voltei a reler uma terceira vez o prefácio de Maria Helena da Rocha Pereira.
Hoje à tarde, enquanto aguardava a hora de início de mais uma das Conferências do Teatro - Madeira de A a Z 2017 -, tive a oportunidade de ler o Editorial de Carlos Vaz Marques, incerto na publicação Granta 10 – Revoluções, a páginas tantas li: “A última frase do livro mais célebre do filósofo francês [Cândido, Voltaire] sugere que cada um de nós tem o dever de cultivar o seu próprio jardim, o que já seria só por si revolucionário; (…)”, palavras escritas a propósito do conto de Isabela Figueiredo, que faz parte deste novo número.
Já lera Cândido ou O Otimismo, de Voltaire, mas, fui a correr consultá-lo e reli os últimos parágrafos, aquelas palavras tocaram-me profundamente e com a leitura de Poética, de Aristóteles, sinto que plantei mais uma espécie nova no meu jardim.

Foi uma experiência de leitura muito interessante, um mundo a descobrir…





sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A minha Granta já chegou à Madeira.


O que ando a ler, descobrir e a aprender...

“O historiador e o poeta não diferem pelo facto de um escrever em prosa e o outro em verso. (…) Diferem é pelo facto de um relatar o que aconteceu e outro o que poderia acontecer, Portanto, a poesia é mais filosófica e tem um carácter mais elevado do que a História. É que a poesia expressa o universal, a História o particular. O universal é aquilo que certa pessoa dirá ou fará de acordo com a verosimilhança ou a necessidade, e é isso que a poesia procura representar, atribuindo depois, nomes às personagens. O particular é, por exemplo, o que fez Alcibíades [general e politico ateniense (c. 450-404 a.C.)] ou que lhe aconteceu.”

Aristóteles
in Poética [“ Composto no séc. IV a.C. (…)”], prefácio de Maria Helena da Rocha Pereira, tradução e notas de Ana Maria Valente, Fundação Calouste Gulbenkian, 5ª edição, 2015.


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Livro: As Duas Águas do Mar, Francisco José Viegas, Porto Editora, 2013.

A leitura é como o montanhismo, começamos por livros/montanhas mais acessíveis e paulatinamente vamos sentindo a necessidade de ler/subir a montanhas que exijam mais e mais de nós, em termos físicos, intelectuais e espirituais.
Quando atingimos o final de um livro como Guerra e Paz ou quando chegamos ao topo do Evereste, o sentimento de êxtase há de ser semelhante, descontando, evidentemente, o custo físico e psicológico necessários para atingir o cume da montanha mais alta do planeta.
Vem isto a propósito porque após ter terminado a leitura da epopeia de Tolstoi e ter descido a correspondente montanha com 8.848 m, ataquei a subida/leitura de As Duas Águas do Mar, de Francisco José Viegas.
Sem ter feito a necessária pausa literária, ataquei imediatamente a subida/leitura deste policial, fui subindo e avançando, ainda sob o efeito imorredouro da escrita de Tolstoi, primeiro estranhei, custou-me um pouco deixar aquelas paragens para lá dos Montes Urais, mas depois, deixei-me embalar pelos dois mares, o mesmo oceano, o mar dos Açores e o da Galiza.
Gosto dos policiais de Francisco José Viegas, aprendo muito através do olhar dos seus personagens/inspectores, melancólicos e reflexivos, o Jaime Ramos, o Arnaldo Jesus e um novo que conheci neste livro - Filipe Castanheira -, apesar de este policial ser de 1992, li-o agora, já depois de ter lido outros quatro, escritos posteriormente.
Com este livro subi ao cume do Annapurna, por sinal o nome que deram à minha almofada…
Termino esta brevíssima reflexão recomendando a leitura dos policiais de Francisco José Viegas, podem começar por este As Duas Águas do Mar.


domingo, 24 de setembro de 2017

Livro: Guerra e Paz, Lev Tolstoi, Relógio D’Água, 2013.

Iniciei a leitura desta obra literária em dezembro de 2016 e só a terminei ontem, nunca até agora me tinha demorado tanto num livro.   
Guerra e Paz, de Lev Tolstoi, não é um livro qualquer, mercê de um desafio profissional, abrandei a sua leitura e entreguei-me a fundo ao estudo do direito aduaneiro e afins, além de que durante quase 9 meses, li dois números da Granta, dois da LER, quinzenalmente o JL e semanalmente a Visão.
Não sei bem como classificar esta obra, mais de 1200 páginas, inicialmente vi-a como um romance, mas chegado ao último quarto do livro, mais me parecia que estava a ler um ensaio. Guerra e Paz é seguramente a melhor obra literária que li até hoje. E por vários motivos.
Não sou especialista em literatura ou sequer uma académica, sou apenas uma pessoa que gosta muito de ler e que já leu algumas coisas, umas mais interessantes e difíceis do que outras. Quanto mais leio, mais me apercebo do muito que quero ler, descobrir e desfrutar.
Descobri Lev Tolstoi através da leitura de Anna Karenina, um romance fenomenal. Mas, Guerra e Paz supera tudo o que já li, volto a repetir-me, mas, porque penso assim?
Porque Guerra e Paz é um romance de personagens extraordinariamente densas, bem construídas, com alma, personalidade, qualidades, defeitos, humanas. Tolstoi retrata e expõe toda uma sociedade, uma época, a divisão social, o modo de viver de todo um povo, o seu povo, a sua terra, o seu imenso país, a Rússia. Depois, constrói uma trama que envolve e relaciona todas as personagens de uma forma tão verosímil, conduzindo-nos a um devir de guerra, quando Napoleão e os exércitos que conseguiu reunir: franceses, alemães, polacos, decidem invadir a Rússia, chegando até Moscovo, ocupando-a, pilhando-a, incendiando-a e abandonando-a, fugindo.
Tolstoi disserta sobre estratégia militar, probabilidades, governança politica, história, numa escrita fabulosa, cheia de mestria, conhecimento e talento.
É sem dúvida uma tarefa quase hercúlea ler uma obra tão extensa, nos tempos sempre apressados em que vive a maioria de nós, mas, ao mesmo tempo que prazer se sente, ler algumas das mais bem escritas páginas de sempre, ao fim de um dia de trabalho. Vale a pena, valeu a pena todo o tempo gasto a saborear, a entender as suas palavras tão ricas de conteúdo.
Do escritor já havia lido Anna Karenina um dos mais belos livros que li, depois seguiu-se esta epopeia, voltarei a Lev Tolstoi, pois lê-lo faz-me amar, mais ainda, a literatura.
Termino recomendando vivamente que se lancem à aventura de ler Guerra e Paz, de Lev Tolstoi…



domingo, 6 de agosto de 2017

Revista LER verão 2017.

"Se a literatura desenvolve em nós o músculo da empatia , e nos torna melhores pessoas, então as bibliotecas públicas podem ser consideradas armas de construção massivas: instrumentos poderosos no desenvolvimento individual e das sociedades."

José Eduardo Agualusa

in texto lido en inglês pelo seu tradutor, Daniel Hahn, na entrega do Internacional Dublin Literary Award e lido por mim, numa Ilha no meio do Atlântico, na Ler Verão, n. 146-2017.

sexta-feira, 24 de março de 2017

25 de março de 1957: assinatura do Tratado de Roma.

Amanhã comemoram-se 60 anos da assinatura do Tratado de Roma (1957), que deu origem à Comunidade Económica Europeia (CEE) e à Comunidade Europeia de Energia Atómica (Euratom), os mesmos 6 países fundadores já haviam criado em 1951, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA). A partir dessa data foram aderindo ao projeto novos países, hoje, como bem sabeis, somos 28, mas, a retroceder para 27...
 
De acordo com as sondagens, a maioria dos 515 milhões de habitantes do território comunitário sentem-se descrentes com o projeto europeu, contudo, como se compreende tal se os estados europeus continuam a figurar nos melhores lugares nos rankings sobre desenvolvimento e bem-estar?
 
Eu continuo a acreditar na União Europeia, creio também que necessita de evoluir, de integrar, de crescer. 
 
Eu acredito sobretudo numa Europa unida na diversidade dos povos e culturas que a integram.
 
Meus amigos, convido-vos a celebrar e a refletir sobre o que cada um de nós pode fazer pelo projeto europeu.
 
Li na Visão que: "graças à UE, pela primeira vez desde o império romano, três gerações seguidas de europeus vivem em paz". 
 
Este serão, depois de assistir à nova série na RTP2, vou regressar à leitura de Guerra e Paz, de Lev Tolstoi, boa noite meus amigos...
 
 

quarta-feira, 15 de março de 2017

Aniversário da Alfândega do Funchal, 540 anos.

Para escrever sobre o que quer que seja é necessário “apetecer”, “vontade”, inspiração e principalmente transpiração, mas, escrever algumas palavras que façam jus à identidade histórica desta instituição, será apenas aflorar factos e desassossegar o vosso dia de trabalho.

Em 15 de Março de 1477, através de carta, a infanta D. Beatriz, então administradora da Ordem de Cristo, determinou a criação de postos alfandegários, em virtude da alfândega de Lisboa, que tinha foral desde as épocas de D. Dinis e de D. Fernando, não conseguir corresponder ao aumento do tráfego ultramarino do inicio da época dos descobrimentos.

Quando o duque D. Manuel, filho de D. Beatriz, assumiu a direcção da Ordem de Cristo e por morte de D. João II, em 1494, subiu também ao trono de Portugal, uma das suas primeiras medidas como Rei, foi a incorporação da Madeira no património da “Coroa para sempre”.

A produção açucareira continuava a subir e com ela a atenção para tudo o que dissesse respeito à Madeira”.

Com efeito, a boa aclimatação da cana sacarina a uma terra fértil e pródiga em água, transformou a ilha, logo na segunda metade do séc. XV, em região exportadora de um produto exótico com colocação muito rentável no mercado europeu, para além de vir colmatar as necessidades cerealíferas do reino que o Norte de África, afinal, não conseguia satisfazer.

“Desta forma os aspectos económicos passaram a merecer por parte do Rei uma muito especial atenção, pelo que foi reformulado o diploma da alfândega do Funchal. Tal como outros diplomas de carácter jurídico e administrativo, também o diploma da alfândega do Funchal veio a servir de modelo para as alfândegas dos Açores e dos demais domínios ultramarinos portugueses.

Naquele tempo, a Madeira assumia para o Reino um papel fundamental no espaço geoeconómico do Mediterrâneo atlântico, a que se veio juntar anos mais tarde, os Açores, hoje, a Madeira e os Açores possuem uma capital importância geoestratégica e geopolítica, não só para o todo nacional, mas, para a União Europeia.

Neste dia em que se completa mais um aniversário desta vetusta instituição, não esquecemos o passado que nos alicerça, mas, olhamos o futuro com curiosidade e temperança, afinal, sabemos bem que as mulheres e os homens passam, a instituição fica.

Para terminar, esta singelíssima celebração, trago-vos um poeta, para mim, “mágico”:

Ficámos, pois, cada um entregue a si próprio, na desolação de se sentir viver. Um barco parece ser um objecto cujo fim é navegar; mas o seu fim não é navegar, senão chegar a um porto. Nós encontrámo-nos navegando, sem a ideia do porto a que nos deveríamos acolher. Reproduzimos assim, na espécie dolorosa, a fórmula aventureira dos argonautas: navegar é preciso, viver não é preciso.
Sem ilusões, vivemos apenas do sonho, que é a ilusão de quem não pode ter ilusões. Vivendo de nós próprios, diminuindo-nos, porque o homem completo é o homem que se ignora. Sem fé, não temos esperança, e sem esperança não temos propriamente vida. Não tendo uma ideia do futuro, também não temos uma ideia de hoje, porque o hoje, para o homem de acção não é senão o prólogo do futuro.

Bernardo Soares/Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, Ática, 1982.


Continuação de um ótimo dia de trabalho e saudações aduaneiras e tributárias cá da Pérola do Atlântico!


sábado, 4 de março de 2017

O que é para mim a cultura?

Gostei do desafio que a Anabela Mota Ribeiro lançou no programa Curso de Cultura Geral, a minha resposta foi singela, pois possuo muitas lacunas, assim, de uma forma despretensiosa enviei-lhe a minha lista:

O que é para mim a cultura?

Cultura para mim é tudo aquilo que me faz feliz, me acrescenta algo, me interroga, me convoca, pode ser um livro, um texto, um poema, uma pintura, um vitral, uma porcelana, um cristal, um azulejo, uma tapeçaria, um biombo, uma fotografia, uma cadeira, um filme, uma peça de teatro, uma peça musical ou um bailado, mas, pode também ser os contrafortes de uma catedral, a pala do Pavilhão de Portugal, uma ponte, uma exposição, um concerto, uma ópera, uma conferência, uma tertúlia ou uma conversa entre amigos com muito que contar…

Sou eclética nos meus gostos, gosto de criação literária, artística, científica e filosófica.

Possuo imensas lacunas, mas, entretenho-me imenso a procurar colmatá-las.

Finalmente, gosto tanto de palavras como gosto de números.

Eis a minha lista: 

1. Maria Teresa Horta, a sua poesia, o seu desassossego em prol das Mulheres; 

2. As Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, o prefácio de Ana Luisa Amaral e O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, um poço sem fundo de interrogações;

3. A escrita de Agustina Bessa Luis, de Hélia Correia, de Mia Couto, de Aquilino Ribeiro, de Jorge de Sena e de Eça de Queiróz, de Lev Tolstoi, de Virginia Woolf, de Dostoievki, de Jane Austen, de Stendhal, etc, etc; 

4. A audição da Orquestra Clássica da Madeira no dia mundial da Música – 1out16; 

5. O MNAA, o MNA e o Museu Calouste Gulbenkian, acervos de inesgotáveis emoções; 

6. Assistir à Conferência de Eduardo Lourenço, Helder Macedo e Joaquim Pizarro, sobre «como a matéria simples busca a forma», Camões, integrada no Festival Literário da Madeira em 2015; 

7. Assistir ao regresso das tertúlias “Ler no Chiado”, com o tema “porque os livros são objetos transcendentes” e ouvir Ana Bacalhau cantar Chico Buarque, Pedro Lamares ler Sophia, Carlos Mendes de Sousa falar de Sophia, visionar a curta-metragem que João César Monteiro realizou sobre Sophia em 1969 e escutar atentamente Eduardo Lourenço; 

8. No Doclisboa’16, o filme “I am the Blues” de Daniel Cross;

9. Ouvir uma e outra vez Bil Evans em “You Must Believe in Spring”; 

10. O Requiem de Mozart, sempre.