domingo, 6 de agosto de 2023

in Quotidiano Instável-Crónicas (1968-1972), por MTH, (25-09-1968), pág 88.

 “A mulher estendeu o braço e sentiu o corpo dele imóvel, adormecido. Olhou o negrume abafado do quarto e tornou a fechar os olhos, inquieta como sempre que acordava assim no escuro: era como se estivesse cega. A sua mão desceu tépida ao longo do corpo dele, um corpo adormecido, sem rosto, sem identidade, perdido no vácuo da noite. E aquele corpo magro tomou a possuí-la como horas antes; estremeceu arrepiada e o sono desapareceu por completo.”


in Quotidiano Instável-Crónicas (1968-1972), por MTH, (25-09-1968), pág 88.

in Quotidiano Instável - Crónicas (1968-197Teresa Horta (2019, 82:83).

 “Mas era a mulher que dominava a tarde, bem firme nos seus grandes pés duros e nas suas pernas musculosas, magras. Era a mulher que dominava o tempo com o movimento flexível do seu corpo harmonioso e tenso nas suas ancas escorridas, nas ilhargas de aço, no ventre plano, nos flancos estreitos, nos seios encobertos pela blusa amarela, suja.”


in Quotidiano Instável - Crónicas (1968-1972), por Maria Teresa Horta (2019, 82:83).