sábado, 29 de junho de 2019

23 anos de vivências na Região Autónoma da Madeira, 2019.

Viva, bom sábado, meus amigos!

Vou contar-vos uma história:


Era uma vez uma família de 4 pessoas (um pai, um menino com 4 anos e uma menina com 9 meses) que acompanhando sua mãe chegaram à Ilha da Madeira no dia 29 de junho de 1996. 


Determinados a começar uma vida nova, vinham por um período de 12 meses, mas gostaram tanto, que foram ficando.


Entretanto, o menino e a menina cresceram, tornaram-se gente e depois de fazerem o ensino básico regressaram à sua terra natal a fim de completarem os estudos, por lá ficando.


Na Ilha continuaram a viver o pai e a mãe, juntos e felizes para sempre.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Livro: A Deusa Sentada, Helena Marques, Publicações Dom Quixote, 1994.


Descobri Helena Marques (1935-) há 20 anos através do romance Terceiras Pessoas (1998), havíamos chegado há poucos anos à Ilha da Madeira por motivos profissionais e tudo que encontrava com cheiro a flores insulares e a mar sentia curiosidade em ler.

Helena Marques nasceu em Carcavelos/Lx e muito cedo veio para a Região com os pais madeirenses, aqui viveu, estudou e trabalhou até regressar a Lisboa aceitando uma proposta de trabalho e ficando por lá…

Os enredos que criou e os temas que escolheu giram à volta da sociedade madeirense, das classes sociais, das famílias, da emigração, dos fluxos de gentes que sempre chegam e partem da Região.

Li Os Íbis Vermelhos da Guiana (2002), um magnifico romance sobre a emigração para a Guiana francesa.

Na altura sabia que o seu romance mais premiado fora o Último Cais (1992), mas aquele que sempre senti vontade de ler foi precisamente este, A Deusa Sentada.

Encontrei-o em outubro passado numa venda de livros usados, foi amor à primeira vista, trouxe-o comigo de volta à Ilha…

Gosto da forma como Helena Marques escreve sobre o passado mais distante, sobre a contemporaneidade, relações familiares…

Com a autora, em A Deusa Sentada, viajamos através do tempo e do espaço, voámos da Ilha da Madeira até Lisboa, seguimos até Malta, um arquipélago composto por inúmeras ilhas e ilhotas, onde Malta, Gozo e Comino, são as maiores e mais populosas, parámos em Gibraltar, para tal como os refugiados gibraltinos rumarmos em direção à Região.

Sabe de que me lembro quando penso na pequena Deusa Sentada de Hagar Qim [templo - um monumento megalítico]? Em Malta. Malta é como a Deusa sentada. Forte, intrépida, imperturbável, paciente, vendo chegar invasor atrás de invasor na certeza de que todos acabariam por partir, guardando o que cada vaga trazia de bom, ignorando o que era inútil ou maléfico, ensinando o seu povo a resistir e a preservar os valores tradicionais e também, lucidamente, a distinguir e a assimilar os valores que os outros iam deixando, e mantendo-se ela, através dos tempos, através das invasões e das conquistas, a mesma ilha-mãe acolhedora, , sedutora misteriosa, terna e eterna… Para mim, Malta é como a pequena Deusa Sentada, malta é a própria Deusa Sentada.”

Acabamos de chegar de um Jantar/Tertúlia Literária, onde contei que acabara de ler este romance e que interrompera esta reflexão para ali estar, disseram-me logo que haveria de gostar ainda mais de ler O Último Cais

Irei à procura dele, entretanto, recomendo vivamente que se deixem encantar com esta escritora…

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Livro: Seta Despedida, Maria Judite de Carvalho, Publicações Europa-América, 1995.


Mais uma estreia, mais uma autora que me foi apresentada, aconteceu durante o ano passado que ouvi falar de Maria Judite de Carvalho (1921-1998), uma escritora “silenciosa”, mais conhecida do grande público por ser mulher de Urbano Tavares Rodrigues.

Maria Judite de Carvalho voltou a ser falada depois de começar ser publicada, desta vez pela editora Minotauro, uma chancela do grupo Almedina, ainda bem.

Existem realmente mulheres talentosas que dificilmente saem para a luz.

No ano passado adquiri o volume II das suas obras completas (Paisagem sem Barcos, Os Armários Vazios e O Seu Amor por Etel), mas, em outubro descobri num alfarrabista uma primeira edição (1995), de Seta Despedida, das Publicações Europa-América, um livro de contos e a mais premiada das suas obras.

Relativamente à sua escrita, primeiro estranhei a melancolia, a tristeza, a negatividade, o abandono e a solidão das suas personagens, sobretudo mulheres que vivem vidas de “faz-de-conta que está tudo bem”.

Todos nós sabemos que nem tudo é claridade, felicidade, esperança e otimismo nas nossas vidas e estes personagens espelham bem essas vivências e sentires.

Seta Despedida, é um livro de contos muito curtos, pesados em emoções que nos fazem pensar.

Oportunamente irei ao encontro de Maria Judite de Carvalho, uma escritora com voz própria…


quarta-feira, 12 de junho de 2019

Livro: A Hora da Estrela, Clarice Lispector, Relógio D´Água, 2002.



Ao som da 2ª Sinfonia de Sibelius, conduzida pelo maestro Hannu Lintu, desconheço que orquestra, concluí a leitura de um “pequeno” conto, não mais de 93 páginas, de Clarice Lispector (1920-1977), uma escritora e jornalista nascida ucraniana e naturalizada brasileira.

O final da peça musical “casou” magistralmente com o terminus do conto, a personagem principal Macabéa morre atropelada por um automóvel de luxo, uma alagoana, nordestina, pobre muito pobre, que não se sabia e sentia existir.

Conhecia Clarice Lispector há muito, a sua vida trágica, a sua obra, mas, demorei a descobrir a sua escrita, o seu jeito de entrar nas personagens.

Ainda antes do conto, já Clarice escreveu: “… enfim que é que se há-de fazer senão meditar para cair naquele vazio pleno que só se atinge com a meditação. Meditar não precisa de ter resultados: a meditação pode ter como fim apenas ela mesma. Eu medito sem palavras e sobre o nada. O que me atrapalha a vida é o nada.

Gostei de ler: “Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.” ou “Pensar é um acto. Sentir é um facto”.

Para concluir: “Que sei eu. Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada – que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espirito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial.”

Que leitura magnifica, meus amigos!

De Clarice Lispector aguarda-me mais um volume de contos, não demorarei muito a regressar a ela, quanto a Vós, meus amigos, recomendo vivamente a sua leitura…