terça-feira, 31 de março de 2015

Aniversário da Alfândega do Funchal: 537 anos.



14 de Março de 2014 às 20:00

Amanhã voltamos a celebrar mais um aniversário da nossa venerável Instituição – a   Alfândega do Funchal  –, criada em 15 de março de 1477, por carta da infanta D. Beatriz, tutora de D. Diogo, Duque de Viseu, num período em que a principal razão de ser das alfândegas era a obtenção de receitas, não só para a Coroa, como também, para as casas nobres do reino, aquelas suficientemente importantes para terem acesso a esta fonte de rendimentos, com o objetivo de sustentar o desenvolvimento comercial e a expansão marítima.

Com este desígnio, a criação da alfândega do Funchal serviu de modelo a uma tentativa mais eficiente de organização da cobrança dos impostos devidos ao senhor da Ilha (à época, a ilha da Madeira era pertença, não da Coroa, mas de uma das mais importantes casas nobres do reino, a Casa de Viseu), sendo este um dos aspetos das medidas fiscais de caráter geral tomadas pela tutora do duque D. Diogo, (…) por forma a que o arquipélago rendesse tudo que dele se pudesse legalmente extrair. Casa-mãe de toda a orgânica fiscal da ilha, nela não se cobravam apenas os impostos sobre as mercadorias exportadas e importadas; o quarto da produção de açúcar também é aí pago, assim como todas as mais rendas do duque (…).

Muito mais haverá para ser contado, mas vamos deixar para o próximo ano… porque, se é certo que as pessoas – os funcionários aduaneiros – são os ativos mais importantes de qualquer organização, também é verdade que, as pessoas passam e as instituições ficam.

Li algures que (…) a par da língua, o mar é um dos maiores ativos que Portugal possui. Projectado sobre o oceano e prolongando-se nos seus arquipélagos atlânticos. Portugal dispõe da maior região marítima da União Europeia. O «mar português» é, aliás, dos mais vastos do mundo. É tempo de sabermos conjugar a economia com a nossa geografia e aproveitar os seus recursos (…).

Para terminar, convido-vos a ler e a apreciar um poema de autoria de José Agostinho Baptista (poeta contemporâneo madeirense), retirado da obra, Esta Voz é Quase o Vento, Assírio & Alvim, 2006:

E então ele disse
E então ele disse:
só quero ir de pé, no último convés,
quando o sol cai,
quando a grande luz se apaga do lado de
fora do céu

Quero
que o albatroz paire sobre o meu pensamento,
que as suas asas estejam eternamente abertas
no ar.

Mas só a gaivota solitária se aproximou,
perseguindo o cardume,
gritando roucamente,
como se chamasse,

E então ele disse:
mar,
quero que sejas sempre azul,
mar profundo,
mar de dentro, mar da minha alma,
mas o mar não respondeu.
A gaivota desceu a pique sobre o convés e
aí ficou, até hoje,
como uma estátua pura, uma estátua de sal.

E então ele disse:
para onde irei,
como poderei navegar,
como poderei secar estas lágrimas que descem
o meu rosto,
como poderei voar se não vejo as asas do meu
amor?
Mas ninguém respondeu.

E agora há quem o veja, de pé, no último
convés,
ao lado das penas brancas, da estátua pura.

E é este o meu olhar sobre esta Instituição secular, de pé, no último convés…

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