14 de Março de 2014 às 20:00
Amanhã voltamos a celebrar mais um aniversário da nossa
venerável Instituição – a Alfândega do Funchal –, criada em 15 de
março de 1477, por carta da infanta D. Beatriz, tutora de D. Diogo, Duque de
Viseu, num período em que a principal razão de ser das alfândegas era a
obtenção de receitas, não só para a Coroa, como também, para as casas nobres do
reino, aquelas suficientemente importantes para terem acesso a esta fonte de
rendimentos, com o objetivo de sustentar o desenvolvimento comercial e a
expansão marítima.
Com este desígnio, a criação da alfândega do
Funchal serviu de modelo a uma tentativa mais eficiente de organização da
cobrança dos impostos devidos ao senhor da Ilha (à época, a ilha da Madeira era
pertença, não da Coroa, mas de uma das mais importantes casas nobres do reino,
a Casa de Viseu), sendo este um dos aspetos das medidas fiscais de caráter
geral tomadas pela tutora do duque D. Diogo, (…) por forma a que o arquipélago
rendesse tudo que dele se pudesse legalmente extrair. Casa-mãe de toda a orgânica
fiscal da ilha, nela não se cobravam apenas os impostos sobre as mercadorias
exportadas e importadas; o quarto da produção de açúcar também é aí pago, assim
como todas as mais rendas do duque (…).
Muito mais haverá para ser contado, mas vamos deixar para o
próximo ano… porque, se é certo que as pessoas – os funcionários aduaneiros –
são os ativos mais importantes de qualquer organização, também é verdade que,
as pessoas passam e as instituições ficam.
Li algures que (…) a par da língua, o mar é um dos maiores
ativos que Portugal possui. Projectado sobre o oceano e prolongando-se nos seus
arquipélagos atlânticos. Portugal dispõe da maior região marítima da União
Europeia. O «mar português» é, aliás, dos mais vastos do mundo. É tempo de
sabermos conjugar a economia com a nossa geografia e aproveitar os seus
recursos (…).
Para terminar, convido-vos a ler e a apreciar um poema de
autoria de José Agostinho Baptista (poeta contemporâneo madeirense), retirado
da obra, Esta Voz é Quase o Vento, Assírio & Alvim, 2006:
E então ele disse
E então ele disse:
só quero ir de pé, no último convés,
quando o sol cai,
quando a grande luz se apaga do lado de
fora do céu
Quero
que o albatroz paire sobre o meu pensamento,
que as suas asas estejam eternamente abertas
no ar.
Mas só a gaivota solitária se aproximou,
perseguindo o cardume,
gritando roucamente,
como se chamasse,
E então ele disse:
mar,
quero que sejas sempre azul,
mar profundo,
mar de dentro, mar da minha alma,
mas o mar não respondeu.
A gaivota desceu a pique sobre o convés e
aí ficou, até hoje,
como uma estátua pura, uma estátua de sal.
E então ele disse:
para onde irei,
como poderei navegar,
como poderei secar estas lágrimas que descem
o meu rosto,
como poderei voar se não vejo as asas do meu
amor?
Mas ninguém respondeu.
E agora há quem o veja, de pé, no último
convés,
ao lado das penas brancas, da estátua pura.
E é este o meu olhar sobre esta Instituição secular, de pé,
no último convés…
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