“Em
contraluz e falando devagar, modelando as palavras, a mãe disse:
-
De ti não quero mais nada! Levo comigo a roupa do corpo e a nossa filha.
Pegou
nela, fininha e atordoada, bibe de bordado inglês no peitilho a defender o vestido
de organdi cor de romã com mangas de balão enfunadas, pô-la debaixo do braço e,
contornando o maple de veludo grená, começou a andar na direcção da porta do
escritório, enquanto em silêncio o pai, sentado à pesada secretária de mogno
diante dos cadernos de capa de oleado preto e dos livros sublinhados, ficou
imóvel,
de
uma palidez doentia,
sem
no entanto dar qualquer sinal do arrepio que sempre provoca o ínvio encontro
com a adversidade. Ao vê-la afastar-se da sua vida: loura e esguia, olhos
lápis-lazúli toldados pela mornidade das pestanas, pernas altas à transparência
da saia lilás, leve balancear das ancas magras.”
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