Carta
a Mário de Sá-Carneiro
"Escrevo-lhe
hoje por uma necessidade sentimental – uma ânsia aflita de falar consigo. Como
de aqui se depreende, eu nada tenho a dizer-lhe. Só isto – que estou hoje no
fundo de uma depressão sem fundo. O absurdo da frase falará por mim.
Estou
num daqueles dias em que nunca tive futuro. Há só um presente imóvel com um
muro de angústia em torno. A margem de lá do rio nunca, enquanto é a de lá, é a
de cá; e é esta a razão íntima de todo o meu sofrimento. Há barcos para muitos
portos, mas nenhum para a vida não doer, nem há desembarque onde se esqueça.
Tudo isto aconteceu há muito tempo, mas a minha mágoa é mais antiga.”
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