“O
velho Parra viu o filho logo que ele desembocou na floresta de carvalhos. Ainda
mesmo que as oliveiras dos ferragiais deixassem apenas uma nesga de campo livre
reconheceria o Pancas a uma distância do Pomar à Ermida da Senhora da Saúde.
Bastava aquele descair molengão de ombros. Malhara bem esses ossos, cansara-se
de os amolgar com raiva, desespero e, por fim, com desinteresse, até considerar
tal filho um figurão estranho à família dos Parras. Que não vissem contar-lhe
histórias dos seus roubos, da sua preguiça, do seu vinho. Nada tinha com esses
valdevinos, dera-lhe a rua como morada. Os Parras eram outra gente. E chegava a
suspeitar da mulher, magicando se ela não teria fabricado aquela cria com algum
maltês das cabanas da serra. Acabara por considerar tal desconfiança como
demonstrada e, quando os azedos da vida precisavam ser desafogados, sussurrava
a mulher por essa fidelidade longínqua.
Sabia,
como o sabia toda a gente, que a sonsa tinha sempre uma malga à espera das
surtidas do filho, e agora que o via de longe, farejando entre as courelas, ia
pensando que, um dia qualquer, acabaria por deixá-lo estendido no descampado. Costumava
esconder-se entre as sabes e entrar mais tarde, de supetão, filando mãe e filho
abancados na cozinha. Sovava-os então voluptuosamente, até os braços se
estafarem. Conhecia melhor o corpo da mulher por aquele som de ripas vazias do
que pelo tacto.”
Sem comentários:
Enviar um comentário