“A
casa estava abandonada; a casa estava deserta. Era como uma concha na duna a
encher-se de grãos de sal ressequido, agora que a vida a deixara. Dir-se-ia
estabelecida a longa noite; e as frívolas correntes de ar mordendo, os
pegajosos golpes de vento tacteando, dir-se-ia haverem triunfado. Cobrira-se de
ferrugem a frigideira, a esteira corrompera-se. Os sapos tinham penetrado na casa.
Negligentemente, sem objetivo, o xaile baloiçante oscilava de lado para lado.
Um cardo introduzira-se por entre os azulejos da despensa. As andorinhas faziam
ninho na sala de estar: o chão estava juncado de palha; o estuque caía às
pazadas; as vigas estavam à vista; as ratazanas acarretavam isto e aquilo, para
roer por detrás do forro das paredes. As borboletas rompiam as crisálidas, fervilhavam
de vida contra as vidraças. As papoilas implantavam-se por entre as dálias; o
relvado acenava na sua longa relva; alcachofras gigantes alteavam-se pelo meio
das rosas; um cravo frisado florescia entre as couves; enquanto o suave bater
de uma erva daninha se convertera, nas noites de Inverno, no tamborilar das
árvores robustas e das sarças de espinhos que, no Verão, tornavam o quarto
completamente verde.”
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