Inédito
Um
homem gostava de glicínias…
um
homem gostava de glicínias, de ver, de respirar
o
seu arabesco perfumado pelas tardes de verão.
e
também gostava de palavras, do modo como elas
se
afirmam contra a morte, e das plantas fez
a
sua catedral, mandava-as vir de toda a parte,
saboreava-as
e dava-as aos amigos, e tinha, também tinha amigos
a
quem falava das glicínias, da sua sombra delicada
no
passar dos anos, e a quem falava das palavras,
da
sua excepcional violência a iluminar, fulgurantes,
toda
a noite do mundo, mas doía-lhe o seu tempo,
de
catástrofes e vítimas, desventuras e agressões, entre
glicínias
e amigos, palavras e angústias, fez-se e cresceu.
fez-se
a crescer numa cidade e nela havia um rio
e
poentes engolfados nas ondas atlânticas, toda a sua existência
engendraria
uma música e um enredar misterioso
das
coisas e das sombras nas águas desse rio.
e
hoje vemos isto: um homem, o seu trabalho,
e
a sua sóbria dignidade
de
amigo simples das palavras e das glicínias,
dando
a mão aos amigos e a dizer-lhes calmamente:
sim,
esta é a minha vida.
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