segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Livro: Livro do Desassossego, Bernardo Soares/Fernando Pessoa, Ática, 1982.


Iniciei o ano terminando a leitura da obra Livro do Desassossego, de autoria do «semi-heterónimo» ou «personalidade literária», Bernardo Soares, como o caracteriza no prefácio da mesma, Jacinto do Prado Coelho.
Não se trata de um romance, nem de um ensaio, nem sequer de um livro de poemas, trata-se sim, de uma compilação de textos recolhidos e transcritos por duas especialistas pessoanas: Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha e por um feliz acaso possuo a 1ª edição.
Quando frequentei o ensino secundário, não cheguei a estudar Fernando Pessoa. O que conheço da sua obra decorre do acompanhamento que procurei fazer durante a frequência do ensino secundário pelos meus filhos e ainda através do que vou lendo, aqui e ali, de artigos e de textos sobre Fernando Pessoa e os seus heterónimos.
Não me considerando nem de perto nem de longe, uma conhecedora da obra de Fernando Pessoa, vi na leitura deste livro, um desafio, uma tentativa de descobrir um escritor enigmático, de muito exigente leitura.
Há dias quando lia o JL, deparei-me com uma citação de Roland Barthes: “O escritor é alguém que combina citações eliminando as aspas”, quando li esta citação lembrei-me logo do Livro do Desassossego, cada frase deste livro, podia bem ser uma citação, tão perfeitas e completas me parecem elas.
Como refere Jacinto do Prado Coelho no seu prefácio:

 «… Bernardo Soares se distingue de Fernando Pessoa por determinadas predilecções de leitor. Caracteriza-se por, escrevendo, eleger às vezes como tema o acto de escrever. Singulariza-se, acima de tudo, por nos transmitir as vivências de Pessoa/Soares no seu quotidiano lisboeta, no escritório do patrão Vasques, no restaurante, no café, no barbeiro, nas ruas por onde deambula, no modesto quarto de mobília barata onde lê, folheia a Orpheu, escreve, devaneia, sofre insónias e, se dorme, volta a acordar, com infinito desalento, para o início de mais um dia pesado e inútil. Dividido entre o real absurdo e o reino subjectivo, o prosador ajudante de guarda-livros sofre, desassossegado, nos nervos e no espírito, os efeitos do meio ambiente, o calor, a chuva, as trovoadas, o difícil contacto com os outros

O Livro do Desassossego, desafia-nos, questiona-nos, interpela-nos, exige-nos tudo, mas merece todo o nosso tempo, a nossa atenção e sobretudo merece ser estudado, lido e relido…

O cansaço de todas as ilusões e de tudo o que há nas ilusões – a perda d’ellas, a inutilidade de as ter, o antecansaço de ter que as ter para perde-las, a mágoa de as ter tido, a vergonha intelectual de as ter tido sabendo que teriam tal fim.”


A terminar, só posso recomendar que se aventurem na leitura do Livro do Desassossego.


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