sábado, 16 de janeiro de 2016

Maria Teresa Horta in Calor, Meninas, D. Quixote, 2014.


“Que falsa acusação lavram, palavra após palavra, a sublinharem o nada a que desde o dia do nascimento fora votada?
Sente o pulsar violento do coração e resolve regressar, nadando sem pressa, já cansada, temerosa sobretudo da memória. Da recordação do homem de pé no seu braço. Do homem a espiá-la, do barco a afastar-se cada vez mais, para regressar ao final da tarde, como é hábito, e em seguida tornar a distanciar-se a fim de voltar de novo na manhã seguinte: o calor a esboroar-se na proa do seu barco.
A mulher passa pela criança na areia, como se não a visse, e vai deitar-se de bruços sobre a toalha onde poisa a cabeça, os cabelos escurecidos pela água a tocarem a areia. O calor a tomar novamente conta da nudez do seu corpo, o sono a ganhar-lhe os membros distendidos em abandono…”




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