“Os
andores floridos, levados aos ombros pelos homens, pareceram-me oscilar
perigosamente. Olhei à roda, se bem que temesse encontrar a enorme figura
do
Senhor dos Passos todo de roxo, cruz ás costas e joelho na terra, imagem
terrifica que eu conhecia da igreja de Benfica em Lisboa, e que desde o
primeiro domingo em que a avó me levara à missa e eu a vira tanto me atemorizara, me
envenenará as noites em sobressalto,
o
sangue a escorrer-lhe pelas faces laceradas, o sangue das feridas que a coroa
de espinhos rasgara na testa onde com crueldade se enterravam, o sangue das
chagas que as chicotadas dos soldados romanos abriram. Mas a figura que
encontrei no andor oscilante mais perto de mim, apesar da sua ostensiva,
desmesurada dor, e da imensa secura do seu olhar, era bem menos aterradora.”
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