A
ouvir John Coltrane escrevo sobre mais uma obra que acabei de ler de Maria
Teresa Horta: Meninas.
Um
livro extraordinariamente belo, intenso e terrível. São trinta contos, trintas
histórias sobre outras tantas Meninas, princesas, burguesas, humildes,
abandonadas, desamparadas, violentadas, física e psicologicamente.
Afinal,
porque tem que ser esta, a sina de todas as Meninas ao longo dos tempos?
“O
monstro morreu: em seu lugar
nasceu
uma menina que era
sozinha
Clarice
Lispector”
Gostei
da evocação da espantosa D. Leonor de Almeida, condessa de Oeynhausen, a
querida Leonor das Luzes, personagem principal de um dos livros que mais gostei
de ler nestes já muitos anos que levo de livros e leituras.
Gosto
da forma poética que MTH imprime à sua escrita, uma forma rica, minuciosa,
mágica, na descrição dos ambientes e sobretudo das personagens que compõem as suas
narrativas. Se fico preocupada com os monstros que grassam pelos seus textos,
deixa-me sempre descansada a existência de anjos que protegem as Meninas de
todo o mal.
Confesso
que não estava preparada para o último conto. A história de Estrela, uma menina abusada. Uma
história terrível, intensamente contada, que infelizmente retrata uma realidade
que continua muito atual e que por esse motivo tem mesmo que ser gritada.
“Quando
as meninas
fitam
o nada
de
olhos vagos
Uma
brisa cruel
vacila
e sussurra
no
seu peito
Estão
a ver um anjo
-
imagino
Mas
as mães
desesperam”
Com
esta maravilhosa obra de Maria Teresa Horta, iniciei um plano de leituras só de
escritoras, segue-se Simone de Beauvoir e o ensaio O Segundo Sexo, 1º volume, da Quetzal:
Este
é o mote:
“Compreende-se
que a dualidade dos sexos (…) tenha sido traduzida por um conflito.
Compreende-se que, se um dos dois conseguisse impor a sua superioridade, esta
deveria estabelecer-se como absoluta. Resta explicar porque venceu o homem desde
o início. Parece que as mulheres deveriam ter saído vitoriosas. Ou a luta
poderia nunca ter tido solução. Por que razão o mundo sempre pertenceu aos
homens e só hoje as coisas começam a mudar?”
Termino
esta prédica que já vai bem longa, recomendando a leitura de Meninas de Maria Teresa Horta, faz-nos
bem ler…
Como eu disse algures, Maria Teresa Horta desenha nesta coletânea de contos uma verdadeira galeria de meninas desenhadas ao sabor da pena, com aquela mestria que só os artistas põem em tudo aquilo que criam e nos oferecem cada dia.
ResponderEliminarGosto das suas palavras Artur!
EliminarOs contos misturam prosa com com estrofes?
ResponderEliminarOlá Luis!
EliminarSim Luis, tal como na obra "As Luzes de Leonor".
Obrigado pela resposta; nunca li nada dela, mas acho intrigante a mistura de prosa e poesia. Terei de espreitar o livro na Biblioteca Nacional.
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