sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Livro: Meninas, Maria Teresa Horta, D. Quixote, 2014.

A ouvir John Coltrane escrevo sobre mais uma obra que acabei de ler de Maria Teresa Horta: Meninas.
Um livro extraordinariamente belo, intenso e terrível. São trinta contos, trintas histórias sobre outras tantas Meninas, princesas, burguesas, humildes, abandonadas, desamparadas, violentadas, física e psicologicamente.
Afinal, porque tem que ser esta, a sina de todas as Meninas ao longo dos tempos?

O monstro morreu: em seu lugar
 nasceu uma menina que era
 sozinha
Clarice Lispector”

Gostei da evocação da espantosa D. Leonor de Almeida, condessa de Oeynhausen, a querida Leonor das Luzes, personagem principal de um dos livros que mais gostei de ler nestes já muitos anos que levo de livros e leituras.
Gosto da forma poética que MTH imprime à sua escrita, uma forma rica, minuciosa, mágica, na descrição dos ambientes e sobretudo das personagens que compõem as suas narrativas. Se fico preocupada com os monstros que grassam pelos seus textos, deixa-me sempre descansada a existência de anjos que protegem as Meninas de todo o mal.
Confesso que não estava preparada para o último conto. A história de Estrela, uma menina abusada. Uma história terrível, intensamente contada, que infelizmente retrata uma realidade que continua muito atual e que por esse motivo tem mesmo que ser gritada.

“Quando as meninas
fitam o nada
de olhos vagos

Uma brisa cruel
vacila e sussurra
no seu peito

Estão a ver um anjo
- imagino

Mas as mães
desesperam”

Com esta maravilhosa obra de Maria Teresa Horta, iniciei um plano de leituras só de escritoras, segue-se Simone de Beauvoir e o ensaio O Segundo Sexo, 1º volume, da Quetzal:
Este é o mote:

“Compreende-se que a dualidade dos sexos (…) tenha sido traduzida por um conflito. Compreende-se que, se um dos dois conseguisse impor a sua superioridade, esta deveria estabelecer-se como absoluta. Resta explicar porque venceu o homem desde o início. Parece que as mulheres deveriam ter saído vitoriosas. Ou a luta poderia nunca ter tido solução. Por que razão o mundo sempre pertenceu aos homens e só hoje as coisas começam a mudar?”


Termino esta prédica que já vai bem longa, recomendando a leitura de Meninas de Maria Teresa Horta, faz-nos bem ler…


5 comentários:

  1. Como eu disse algures, Maria Teresa Horta desenha nesta coletânea de contos uma verdadeira galeria de meninas desenhadas ao sabor da pena, com aquela mestria que só os artistas põem em tudo aquilo que criam e nos oferecem cada dia.

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  2. Os contos misturam prosa com com estrofes?

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    1. Olá Luis!
      Sim Luis, tal como na obra "As Luzes de Leonor".

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    2. Obrigado pela resposta; nunca li nada dela, mas acho intrigante a mistura de prosa e poesia. Terei de espreitar o livro na Biblioteca Nacional.

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