Conclui ontem à noite a leitura do meu segundo
romance de Virginia Woolf (1882-1941), As Ondas.
“É verdade que este poeta não é fácil de ler.
Às vezes a página está suja de lama, rasgada e colada com ajuda de folhas secas
e fragmentos de verbena e gerânio. Para ler este poeta é preciso possuir miríades
de olhos, como os faróis que à noite giram na agitada extensão dos mares,
quando apenas um rasto de algas flutua à superfície e subitamente as ondas se
abrem para deixar emergir o monstro.”
De facto, não foi uma leitura fácil, se
acompanhar as palavras de Marguerite Yourcenar, a sua tradutora francesa:
“As Ondas é um livro com seis personagens, ou
melhor, seis instrumentos musicais, pois consiste unicamente em monólogos
interiores, cujas curvas se sucedem e entrecruzam com uma segurança que lembra
a Arte da Fuga de Bach. Nesta narrativa musical, os breves pensamentos de infância,
as rápidas reflexões sobre os momentos de juventude e de confiante camaradagem desempenham
o mesmo papel dos allegri nas sinfonias de Mozart, abrindo espaço para os
lentos andantes dos imensos solilóquios sobre a experiência, a solidão e a
maturidade.”
Consigo então perceber porque só bem adiantada na
leitura é que comecei a compreender o enredo, a harmonia da escrita e das personagens.
Foi uma leitura desafiante, mas imensamente
compensadora, cheguei a partilhar convosco alguns excertos que me tocaram
especialmente, não foram os únicos, mas vou deixar que descubram por vós a
magia de As Ondas, de Virginia Woolf…
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