Um romance cujo título
é La Coca e que começa assim: “O funcionário da alfândega não sabia
disfarçar.” teria mesmo que despertar a minha atenção e curiosidade.
Sou
funcionária aduaneira, gosto da escrita de Rentes de Carvalho, não foi preciso
inventar mais nada para trazer o romance para casa.
Tal como a maioria dos
portugueses descobri José Rentes de Carvalho há poucos anos; apesar da sua
provecta idade, Rentes de Carvalho nunca foi um escritor muito estimado, as
razões para tal ter acontecido não importa agora esmiuçar.
Prefiro escrever sobre
o romance que terminei de ler. Como poderia deixar entender pelo título, o
romance debruça-se sobre droga, mas não só e nem da forma a que estamos
habituados. Rentes de Carvalho autobiográficamente escreve sobre as formas
enviesadas e de sobrevivência que os seus conterrâneos sempre tiveram para
conseguir sobreviver no interior pobre e sempre esquecido do nosso país.
Antes, durante e após
as duas Grandes Guerras, o meio de subsistência de muitos habitantes rurais,
sobretudo aqueles que viviam nos dois lados da fronteira, foi o contrabando de quase
tudo: cigarros, uísque, barras de ouro, gado, café, azeite, bacalhau, enfim,
tudo o que desse dinheiro.
Rentes de Carvalho,
filho de um inspetor da alfândega, viveu e cresceu no ambiente e teve como
amigos de infância e adolescência, muitos filhos e futuros contrabandistas.
Mais tarde, bastante mais tarde, resolve escrever sobre essas memórias e
regressa à sua terra a fim de saber do destino desses amigos e conhecidos.
Descobre que o mundo do
contrabando mudou muito, agora é a droga, a mercadoria rainha e aquela que
maiores lucros traz, mas, vem acompanhada com mais violência, sangue, morte,
vingança.
Como atrás referi,
gosto da escrita, seca, direta, objetiva, forte, de José R. de Carvalho, como
ainda possuo três títulos do autor para ler, seguramente irei regressar ao seu
convívio, para já, limito-me a recomendar a sua leitura…
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