Terminei há pouco a
leitura de mais um romance de Aquilino Ribeiro (AR), já lá vão quatro e tenho
ainda o triplo para desfrutar.
Gosto de regressar a AR, sinto mesmo uma certa
necessidade intelectual e literária de continuar a descobrir os nossos
clássicos, pela sua forma plástica de nos transmitir ideias e acontecimentos,
pela sua intemporalidade, infelizmente nem sempre pelas melhores razões.
Dos romances que li de
AR, Lápides Partidas é o primeiro cuja ação decorre maioritariamente em
Lisboa, mercê da vinda para a cidade de Libório, o personagem à volta do qual
se desenvolve toda a trama. Libório, é um jovem homem, cheio de ideais
republicanos que vem para a capital à procura de trabalho e sobretudo anseia
participar na ação revolucionária de derrube da monarquia vigente.
O romance permite-nos
compreender o estado em que se encontrava o país, política, económica e
socialmente, é um retrato de um país pobre, atrasado, um quase salve-se quem
puder.
Libório questiona-se,
quando já no final, foge do país tendo como objetivo chegar a Paris, para tal
passa a fronteira em direção ao país vizinho e sente logo a diferença:
“(...) Era Espanha, gente de Espanha; outra louça.
(...) Lá está Aldeia del Obispo ao fundo da
encosta, saraivada de branco … e um aspecto sério de aglomeração ordenada e
progressiva; lá estão sulcando o céu claro, como as linhas de papel de música,
suspensos de paralelogramos certos e espaçados – os paralelogramos da
civilização – os fios da electricidade, do telefone, do telegrafo.
(...) Porquê? Porque é que esta má sina persegue
ao «triste do lusíada, coitado» Não sei. Mas uma das ilações a tirar será esta:
desde tempos imemoriais que andam falseadas nesta terra as barras de comando. A
tragédia de Fevereiro [assassinato do rei e do príncipe] tem de ser vista à luz
pavorosa deste prisma.”
E termina, concluindo,
este notável romance:
“E a que luz as outras realidades? Sim, porque a gente da minha terra,
eu, meus pais, os cavadores, os meus amigos, o meu espírito, o nosso espírito
correm mundo sob um manto de desdita e menoscabo!”
É uma aprendizagem
permanente e prazerosa, sobretudo em termos linguísticos, ler Aquilino Ribeiro!
Recomendo vivamente que
partam à descoberta dos nossos clássicos…
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