quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Rainer Maria Rilke in Elegias de Duíno, Os Sonetos a Orfeu, tradução de Vasco Graça Moura, Bertrand, 2007.

“A Segunda Elegia

Todo o anjo é terrível. E todavia, ai de mim,
a vós cantei, ó aves quase mortais da alma,
sabendo como sois. Onde param os dias de Tobias,
quando lá estava um dos mais radiosos, à porta simples da casa,
meio disfarçado para a viagem e já não mais aterrador;
(jovem para o jovem, ao mirar curioso para fora).
Desse o arcanjo agora, o perigoso, de detrás das estrelas,
um só passo a descer delas para cá: de tão forte sobressalto
se nos destruiria o próprio coração. Quem sois vós?

Cedo afortunados, vós, acarinhados da criação,
linhas de altura, cumes da manhã
de todo o começo, - pólen da divindade em flor,
charneiras da luz, passagens, escadas, tronos,
espaços feitos de ser, escudos da glória, tumultos
do sentimento arrebatado em tempestade e de repente, avulsos,
espelhos, os que a própria beleza irradiada
voltam a haurir na própria face.

[…]”


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