E
tu aonde vais?
Se
ali já só há fumo e fogo!
-
Ficaram lá quatro crianças,
vou
buscá-las!
Como
é possível
assim
de repente
desprender-se
de si próprio?
Da
ordem do dia e da noite?
Das
neves do ano que vem?
Dos
rubores das maçãs?
Da
mágoa do amor
que
nunca é demais?
Sem
se despedir, nem ser despedida
sozinha
acorrer acode as crianças,
olhem
só, trá-las em braços,
mergulhando
no fogo até aos joelhos,
louvando
o fulgor no cabelo revolto,
Ela,
que queria comprar um bilhete,
sair
da cidade por um tempo,
escrever
uma carta,
abrir
a janela após a trovoada,
trilhar
o caminho aberto no bosque,
espantar-se
com as formigas,
ver
como o lago se enruga
com
o sopro do vento.
Um
minuto de silêncio pelos mortos
perdura
às vezes pela noite fora.
Sou
testemunha ocular
do
voou das nuvens e dos pássaros,
ouço
a relva crescer
e
sei como ela se chama,
decifrei
milhões
de
caracteres impressos,
segui
com o telescópio
estrelas
bizarras,
só
que até hoje
ninguém
me pediu socorro
e
se acaso lamento
uma
folha, um vestido, um poema –
De
nós próprios só sabemos,
o
que nos foi posto à prova.
É
isto que vos digo
deste
meu coração que desconheço.
Wislawa
Szymborska