Quem,
se eu gritasse, me ouviria de entre as ordens
dos
anjos? E mesmo que um deles, de repente,
me
cingisse ao coração: eu desfaleceria da sua
existência
mais forte. Pois o belo não é mais
do
que o começo do terrível, que ainda mal suportamos,
e
deslumbra-nos assim porque, imperturbado,
desdenha
aniquilar-nos. Todo o anjo é terrível.
E
eu me retraio então e engulo o chamariz
do
escuro soluçar. Ah, de quem podemos
então
necessitar? Dos anjos, não, dos homens, não,
e
os animais astutos já reparam
que
não estamos à vontade nem em casa
no
mundo interpretado. Fica-nos talvez
qualquer
árvore no declive, para diariamente
mais
uma vez a vermos; fica-nos a rua de ontem
e
a fidelidade mimalha de algum hábito
a
que calhámos bem e então ficou e não se foi.
[…]
“
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