quinta-feira, 21 de julho de 2016

Em vez de um prefácio.

Nos terríveis anos de Iezhov passei dezassete meses nas filas de prisão em Leninegrado. Certa vez alguém «identificou-me». Então uma mulher de olhos azuis que estava atrás de mim, que de certeza nunca ouvira o meu nome, saiu desse torpor próprio de todos nós naquela altura e perguntou-me ao ouvido (aí todos falavam num murmúrio):
- É capaz de descrever isto?
E eu respondi:
- Sou.
Então algo parecido com um sorriso perpassou por aquilo que outrora fora o seu rosto.

1 de Abril de 1957.
Leninegrado

Anna Akhmatova, in “Poemas”, tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev, Relógio D’Água, 2003.


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