Terminei finalmente a leitura deste pequeno romance policial, não porque
fosse maçudo, ou coisa que tal, mas porque tendo eu iniciado a sua leitura já
na última semana de férias, quando cheguei a casa, tinhas várias leituras
periódicas para ler e como gosto de ter as minhas leituras em dia, fiz uma
pausa na sua leitura.
Pois bem, terminei-o mas com uma sensação estranha: se por um lado o enredo
é substancial, a escrita é fenomenal, já a história, a personagem feminina, o
que ela representa, a condição da mulher, enfim, aquelas descrições de
sentimentos, de valores, onde as mulheres, nada mais representavam do que um
adereço, para merecerem algum respeito e possuírem algum valor social, tinham
que se manter intactas, puras de sentimentos e de acções.
O que mais me “aflige” nestas leituras, é a auto-censura, o
auto-flagelamento, que as mulheres da época tinham para consigo próprias.
“Oh doce vida das árvores e das plantas! Passividade
da relva, irresponsabilidade da água, pacífico sono dos musgos, suave pousar da
sombra! Quantas vezes me consolaste, e me ensinaste a sofrer calada! Quantas
vezes invejava a imobilidade do vosso ser!
Era ali, só, relendo essas cartas cruéis, que eu
sentia o amor daquele homem fugir-me como a água de um regato que se quer tomar
entre os dedos.
Que me restaria então?
Voltar então à serenidade legítima da vida? Não podia,
ai de mim! Estava para sempre expulsa do paraíso pacífico da família, da casta
sombra do dever. Lançar-me nas aventuras e na revolta? Meus Deus! Isso
repugnava tanto o meu carácter como o contacto dum animal viscoso à pele do meu
peito.
Ficava, pois, sem situação na vida. Não tinha nela um
lugar definido. Entrava nessa legião dolorosa e tristemente miserável – das
mulheres abandonada.”
O mistério da estrada de Sintra, escrito a duas mãos por Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, é um romance
policial e de época, que recomendo que leiam…
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