sexta-feira, 22 de julho de 2016

Livro: O Mistério da Estrada de Sintra, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, BI077, 2010.


Terminei finalmente a leitura deste pequeno romance policial, não porque fosse maçudo, ou coisa que tal, mas porque tendo eu iniciado a sua leitura já na última semana de férias, quando cheguei a casa, tinhas várias leituras periódicas para ler e como gosto de ter as minhas leituras em dia, fiz uma pausa na sua leitura.
Pois bem, terminei-o mas com uma sensação estranha: se por um lado o enredo é substancial, a escrita é fenomenal, já a história, a personagem feminina, o que ela representa, a condição da mulher, enfim, aquelas descrições de sentimentos, de valores, onde as mulheres, nada mais representavam do que um adereço, para merecerem algum respeito e possuírem algum valor social, tinham que se manter intactas, puras de sentimentos e de acções.
O que mais me “aflige” nestas leituras, é a auto-censura, o auto-flagelamento, que as mulheres da época tinham para consigo próprias.

“Oh doce vida das árvores e das plantas! Passividade da relva, irresponsabilidade da água, pacífico sono dos musgos, suave pousar da sombra! Quantas vezes me consolaste, e me ensinaste a sofrer calada! Quantas vezes invejava a imobilidade do vosso ser!
Era ali, só, relendo essas cartas cruéis, que eu sentia o amor daquele homem fugir-me como a água de um regato que se quer tomar entre os dedos.
Que me restaria então?
Voltar então à serenidade legítima da vida? Não podia, ai de mim! Estava para sempre expulsa do paraíso pacífico da família, da casta sombra do dever. Lançar-me nas aventuras e na revolta? Meus Deus! Isso repugnava tanto o meu carácter como o contacto dum animal viscoso à pele do meu peito.
Ficava, pois, sem situação na vida. Não tinha nela um lugar definido. Entrava nessa legião dolorosa e tristemente miserável – das mulheres abandonada.”


O mistério da estrada de Sintra, escrito a duas mãos por Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, é um romance policial e de época, que recomendo que leiam…


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