“Não
há crise de pensamento. Há muitos bons livros, como muito bom cinema. O
problema é que hoje ainda não temos capacidade de avaliar tanta produção
intelectual que todos os anos vem a lume. Milhares e milhares de livros são
editados anualmente em toda a Europa. O que está a mudar na verdade é o lugar
dos intelectuais e o papel do pensamento na nossa sociedade. As ideologias não
estão propriamente mortas, mas já não entusiasmam tanto. A grande ideologia de
hoje é a ecologia, mas a ecologia não anima, cria pânico, pois diz-nos que
caminhamos para o desastre… É uma ideologia de sobrevivência terrena. Os jovens
preferem a música aos livros, as imagens ao puro pensamento! É a vitória do ecrã
sobre o escrito, sobre os livros…O homem de hoje está mais atraído pelas coisas
que mudam depressa, pelas novidades. Continua a haver curiosidade mas rápida. O
homem de hoje em geral não vive para o pensamento, mas vive mais para consumir
o pensamento produzido. Mas isto não é um drama absoluto. Há ainda e haverá
grandes pensadores. Afirmava Friedrick Nietzsche que o grande pensamento é
forçosamente aristocrático, é produzido por uma pequena elite. Não há génios
por todo o lado. Há poucos. Serão sempre uma minoria. A produção de pensamento
novo, mesmo as grandes invenções científicas, é obra de poucos. O pensamento
profundo é difícil e abstrato, é moroso…”
domingo, 31 de julho de 2016
sexta-feira, 29 de julho de 2016
quinta-feira, 28 de julho de 2016
Letras Convida - Literatura, Cultura e Arte, CLEPUL, CIDH, IECC-PMA e INCM, nº 7 (2014-2016)
Recebi hoje o meu exemplar, apesar de ser a edição nº 7, é o meu
primeiro exemplar, tem como tema principal: Maria Teresa Horta
"Emblemática romancista e poetisa, é uma das personalidades mais
prestigiadas da literatura portuguesa contemporânea."
Por se tratar de uma edição especial, este número vem acompanhado pelo volume antezero do Grande Dicionário Enciclopédico da Madeira!
Duas preciosidades pelo preço de uma...
Por se tratar de uma edição especial, este número vem acompanhado pelo volume antezero do Grande Dicionário Enciclopédico da Madeira!
Duas preciosidades pelo preço de uma...
terça-feira, 26 de julho de 2016
Rainer Maria Rilke in Elegias de Duíno, Os Sonetos a Orfeu, tradução de Vasco Graça Moura, Bertrand, 2007.
“A
Primeira Elegia
Quem,
se eu gritasse, me ouviria de entre as ordens
dos
anjos? E mesmo que um deles, de repente,
me
cingisse ao coração: eu desfaleceria da sua
existência
mais forte. Pois o belo não é mais
do
que o começo do terrível, que ainda mal suportamos,
e
deslumbra-nos assim porque, imperturbado,
desdenha
aniquilar-nos. Todo o anjo é terrível.
E
eu me retraio então e engulo o chamariz
do
escuro soluçar. Ah, de quem podemos
então
necessitar? Dos anjos, não, dos homens, não,
e
os animais astutos já reparam
que
não estamos à vontade nem em casa
no
mundo interpretado. Fica-nos talvez
qualquer
árvore no declive, para diariamente
mais
uma vez a vermos; fica-nos a rua de ontem
e
a fidelidade mimalha de algum hábito
a
que calhámos bem e então ficou e não se foi.
[…]
“
sexta-feira, 22 de julho de 2016
Livro: O Mistério da Estrada de Sintra, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, BI077, 2010.
Terminei finalmente a leitura deste pequeno romance policial, não porque
fosse maçudo, ou coisa que tal, mas porque tendo eu iniciado a sua leitura já
na última semana de férias, quando cheguei a casa, tinhas várias leituras
periódicas para ler e como gosto de ter as minhas leituras em dia, fiz uma
pausa na sua leitura.
Pois bem, terminei-o mas com uma sensação estranha: se por um lado o enredo
é substancial, a escrita é fenomenal, já a história, a personagem feminina, o
que ela representa, a condição da mulher, enfim, aquelas descrições de
sentimentos, de valores, onde as mulheres, nada mais representavam do que um
adereço, para merecerem algum respeito e possuírem algum valor social, tinham
que se manter intactas, puras de sentimentos e de acções.
O que mais me “aflige” nestas leituras, é a auto-censura, o
auto-flagelamento, que as mulheres da época tinham para consigo próprias.
“Oh doce vida das árvores e das plantas! Passividade
da relva, irresponsabilidade da água, pacífico sono dos musgos, suave pousar da
sombra! Quantas vezes me consolaste, e me ensinaste a sofrer calada! Quantas
vezes invejava a imobilidade do vosso ser!
Era ali, só, relendo essas cartas cruéis, que eu
sentia o amor daquele homem fugir-me como a água de um regato que se quer tomar
entre os dedos.
Que me restaria então?
Voltar então à serenidade legítima da vida? Não podia,
ai de mim! Estava para sempre expulsa do paraíso pacífico da família, da casta
sombra do dever. Lançar-me nas aventuras e na revolta? Meus Deus! Isso
repugnava tanto o meu carácter como o contacto dum animal viscoso à pele do meu
peito.
Ficava, pois, sem situação na vida. Não tinha nela um
lugar definido. Entrava nessa legião dolorosa e tristemente miserável – das
mulheres abandonada.”
O mistério da estrada de Sintra, escrito a duas mãos por Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, é um romance
policial e de época, que recomendo que leiam…
quinta-feira, 21 de julho de 2016
Em vez de um prefácio.
Nos
terríveis anos de Iezhov passei dezassete meses nas filas de prisão em
Leninegrado. Certa vez alguém «identificou-me». Então uma mulher de olhos azuis
que estava atrás de mim, que de certeza nunca ouvira o meu nome, saiu desse
torpor próprio de todos nós naquela altura e perguntou-me ao ouvido (aí todos
falavam num murmúrio):
-
É capaz de descrever isto?
E
eu respondi:
-
Sou.
Então
algo parecido com um sorriso perpassou por aquilo que outrora fora o seu rosto.
1
de Abril de 1957.
Leninegrado
Anna Akhmatova, in “Poemas”, tradução do russo, selecção e notas de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev, Relógio D’Água, 2003.
terça-feira, 19 de julho de 2016
Píndaro in revista Ler, Verão 2016.
A
badana da revista LER, traz sempre um poema, desta vez, deparei-me com Píndaro…
“Para
Hierão de Etna
Vencedor
na corrida de carro
Lira
de ouro, pertença de Apolo e das Musas de tranças
cor
violeta, o passo de dança, principio do esplendor festivo,
ouve-te
, e os cantores seguem os teus sinais, quando, vibradas
as
cordas, dás inicio aos prelúdios condutores dos coros.
E
extingues o raio de fogo pontiagudo que corre eternamente.
A
águia dorme no ceptro de Zeus, deixando tombar para
ambos
os lados as rápidas asas.
À
rainha das aves, derramaste-lhe sobre a sua cabeça dobrada
uma
nuvem de faces negras, o suave fechar dos olhos.
E,
dormindo, ela balança as costas lânguidas, tomada pelas
tuas
rajadas de vento. Até o violento Ares deixa de lado
a
ponta rija das lanças e aquece o coração num profundo
sono.
As tuas flechas encantam o espírito das divindades com
a
perícia do filho de Leto e das Musas de cintura fina
e
de formosos seios.
[…]
Píndaro
[Grécia,
518-442 AEC]
(Tradução
de António de Castro Caeiro em Odes a Píndaro, Quetzal, 2010)”
segunda-feira, 18 de julho de 2016
Maria Teresa Horta in entrevista a Maria Leonor Nunes, JL nº 1194 de 2016-07-06.
Uma
fabulosa e desassombrada entrevista de Maria Teresa Horta (MHT) a propósito do
seu mais novo romance “Anunciações”:
«A
Maria de MTH não diz “Faça-se em mim a vontade do Senhor. Ela é “desobediência”,
“desejo”, “sexualidade”. E no princípio, era “mulher”. Assim a poetisa e
ficcionista reescreve uma das passagens da Bíblia mais celebradas por poetas,
pintores e escultores, a Anunciação do Anjo a Maria, contando outra narrativa,
com a intensa beleza da sua palavra poética, o entendimento feminista e a
ousadia de questionar tabus, mitos, a história de “abusos” da sociedade patriarcal.
Para ela, Maria foi a primeira feminista, Jesus Cristo não é o filho de Deus,
mas da sua paixão pelo anjo Gabriel, tornado humano na relação com ela. E é
isto que anuncia. Porque as anunciações não são apenas ofício de anjos, mas de
poetas, como garante. E os poetas, diz, são a “esperança do mundo”.”
“Segundo
a Bíblia, Maria diz “Faça-se em mim a vontade do Senhor”. E eu digo que não o disse.
A minha paixão por Maria vem precisamente do facto de achar que ela foi a
primeira mulher que diz”não, Em mim faz-se o que eu quero”.
quinta-feira, 7 de julho de 2016
Maria Teresa Horta in Anunciações, D. Quixote, 2016.
A
minha mãe que me inspira todos os dias, completou hoje 81 anos, a ela dedico
este belo poema, de autoria de Maria Teresa:
Feminino
Qual
é o meu
destino
de mulher
*
Predestinada
dos céus
a
ser exemplo do mundo
*
O
de mãe?
*
No
seu sagrado
mais
puro
que
deste modo nem quero
*
Num
feminino difuso
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