Tentar
escrevinhar as nossas impressões sobre a leitura de um romance em dia de
aniversário e simultaneamente de celebração da Revolução dos Cravos é muito
complicado, especialmente quando a leitura que se fez Mulheres de Cinza, de Mia
Couto, pertence a uma trilogia moçambicana sobre:
“… os
derradeiros dias do chamado Estado de Gaza, o segundo maior império de África
dirigido por um africano. Ngungunyane (ou Gungunhane como ficou conhecido pelos
portugueses) foi o último dos imperadores que governou toda a metade Sul do
Território de Moçambique. Derrotado em 1895 pelas forças portuguesas comandadas
por Mouzinho de Albuquerque, o imperador Ngungunyane foi deportado para os
Açores onde veio a morrer em 1906. Os seus restos mortais terão sido
transladados para Moçambique em 1985.
Existem, no
entanto, versões que sugerem que não foram as ossadas do imperador que voltaram
dentro da urna. Foram torrões de areia. Do grande adversário de Portugal restam
areias recolhidas em solo português.”
Através da sua
escrita tão peculiar, Mia Couto leva-nos a conhecer os diversos povos que compõem o mosaico deste imenso país, as suas interligações e dependências em
relação ao povo que os quis colonizar, nós, os portugueses.
Um olhar duro e
difícil ao tempo de hoje, mas é a história dos europeus colonizadores em
África.
Há muito que
leio Mia Couto e cada livro que leio mais desconfortável me sinto, é bom
sinal, acho eu…
“A diferença
entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres são os primeiros a morrer.
Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser
violadas por quem não conhecemos.”
Este dia que
festejamos trouxe a liberdade aos povos que nós, os portugueses, colonizamos, mas
não lhes trouxe a felicidade, afinal o que lá deixámos não os ajudou em nada.
Eu vou continuar a buscar o desassossego nas leituras que pretendo fazer até ao fim dos meus dias.
Para terminar recomendo a
todos os meus amigos leituras desconfortáveis, como este Livro 1 da trilogia As
Areias do Imperador - Mulheres de Cinza.
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