Descobri Helena
Marques (1935-) há 20 anos através do romance Terceiras Pessoas (1998),
havíamos chegado há poucos anos à Ilha da Madeira por motivos profissionais
e tudo que encontrava com cheiro a flores insulares e a mar sentia curiosidade
em ler.
Helena Marques
nasceu em Carcavelos/Lx e muito cedo veio para a Região com os pais madeirenses,
aqui viveu, estudou e trabalhou até regressar a Lisboa aceitando uma proposta
de trabalho e ficando por lá…
Os enredos que
criou e os temas que escolheu giram à volta da sociedade madeirense, das
classes sociais, das famílias, da emigração, dos fluxos de gentes que sempre chegam
e partem da Região.
Li Os
Íbis Vermelhos da Guiana (2002), um magnifico romance sobre a emigração
para a Guiana francesa.
Na altura
sabia que o seu romance mais premiado fora o Último Cais (1992), mas
aquele que sempre senti vontade de ler foi precisamente este, A Deusa Sentada.
Encontrei-o em
outubro passado numa venda de livros usados, foi amor à primeira vista,
trouxe-o comigo de volta à Ilha…
Gosto da forma como Helena Marques escreve sobre o passado mais distante, sobre a contemporaneidade, relações familiares…
Com a autora, em A Deusa Sentada, viajamos através do tempo e do espaço, voámos da
Ilha da Madeira até Lisboa, seguimos até Malta, um arquipélago composto por
inúmeras ilhas e ilhotas, onde Malta, Gozo e Comino, são as maiores e mais
populosas, parámos em Gibraltar, para tal como os refugiados gibraltinos rumarmos
em direção à Região.
“Sabe de que
me lembro quando penso na pequena Deusa Sentada de Hagar Qim [templo - um monumento
megalítico]? Em Malta. Malta é como a Deusa sentada. Forte, intrépida, imperturbável,
paciente, vendo chegar invasor atrás de invasor na certeza de que todos
acabariam por partir, guardando o que cada vaga trazia de bom, ignorando o que
era inútil ou maléfico, ensinando o seu povo a resistir e a preservar os
valores tradicionais e também, lucidamente, a distinguir e a assimilar
os valores que os outros iam deixando, e mantendo-se ela, através dos tempos,
através das invasões e das conquistas, a mesma ilha-mãe acolhedora, , sedutora
misteriosa, terna e eterna… Para mim, Malta é como a pequena Deusa Sentada,
malta é a própria Deusa Sentada.”
Acabamos de
chegar de um Jantar/Tertúlia Literária, onde contei que acabara de ler este
romance e que interrompera esta reflexão para ali estar, disseram-me logo que
haveria de gostar ainda mais de ler O Último Cais…
Irei à procura dele,
entretanto, recomendo vivamente que se deixem encantar com esta escritora…
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