sexta-feira, 28 de junho de 2019

Livro: A Deusa Sentada, Helena Marques, Publicações Dom Quixote, 1994.


Descobri Helena Marques (1935-) há 20 anos através do romance Terceiras Pessoas (1998), havíamos chegado há poucos anos à Ilha da Madeira por motivos profissionais e tudo que encontrava com cheiro a flores insulares e a mar sentia curiosidade em ler.

Helena Marques nasceu em Carcavelos/Lx e muito cedo veio para a Região com os pais madeirenses, aqui viveu, estudou e trabalhou até regressar a Lisboa aceitando uma proposta de trabalho e ficando por lá…

Os enredos que criou e os temas que escolheu giram à volta da sociedade madeirense, das classes sociais, das famílias, da emigração, dos fluxos de gentes que sempre chegam e partem da Região.

Li Os Íbis Vermelhos da Guiana (2002), um magnifico romance sobre a emigração para a Guiana francesa.

Na altura sabia que o seu romance mais premiado fora o Último Cais (1992), mas aquele que sempre senti vontade de ler foi precisamente este, A Deusa Sentada.

Encontrei-o em outubro passado numa venda de livros usados, foi amor à primeira vista, trouxe-o comigo de volta à Ilha…

Gosto da forma como Helena Marques escreve sobre o passado mais distante, sobre a contemporaneidade, relações familiares…

Com a autora, em A Deusa Sentada, viajamos através do tempo e do espaço, voámos da Ilha da Madeira até Lisboa, seguimos até Malta, um arquipélago composto por inúmeras ilhas e ilhotas, onde Malta, Gozo e Comino, são as maiores e mais populosas, parámos em Gibraltar, para tal como os refugiados gibraltinos rumarmos em direção à Região.

Sabe de que me lembro quando penso na pequena Deusa Sentada de Hagar Qim [templo - um monumento megalítico]? Em Malta. Malta é como a Deusa sentada. Forte, intrépida, imperturbável, paciente, vendo chegar invasor atrás de invasor na certeza de que todos acabariam por partir, guardando o que cada vaga trazia de bom, ignorando o que era inútil ou maléfico, ensinando o seu povo a resistir e a preservar os valores tradicionais e também, lucidamente, a distinguir e a assimilar os valores que os outros iam deixando, e mantendo-se ela, através dos tempos, através das invasões e das conquistas, a mesma ilha-mãe acolhedora, , sedutora misteriosa, terna e eterna… Para mim, Malta é como a pequena Deusa Sentada, malta é a própria Deusa Sentada.”

Acabamos de chegar de um Jantar/Tertúlia Literária, onde contei que acabara de ler este romance e que interrompera esta reflexão para ali estar, disseram-me logo que haveria de gostar ainda mais de ler O Último Cais

Irei à procura dele, entretanto, recomendo vivamente que se deixem encantar com esta escritora…

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