Viva, bom sábado, meus amigos!
Vou contar-vos uma história:
Era uma vez uma família de 4 pessoas (um pai, um menino com 4 anos e
uma menina com 9 meses) que acompanhando sua mãe chegaram à Ilha da
Madeira no dia 29 de junho de 1996.
Determinados a começar uma vida nova, vinham por um período de 12 meses, mas gostaram tanto, que foram ficando.
Entretanto, o menino e a menina cresceram, tornaram-se gente e depois
de fazerem o ensino básico regressaram à sua terra natal a fim de
completarem os estudos, por lá ficando.
Na Ilha continuaram a viver o pai e a mãe, juntos e felizes para sempre.
sábado, 29 de junho de 2019
sexta-feira, 28 de junho de 2019
Livro: A Deusa Sentada, Helena Marques, Publicações Dom Quixote, 1994.
Descobri Helena
Marques (1935-) há 20 anos através do romance Terceiras Pessoas (1998),
havíamos chegado há poucos anos à Ilha da Madeira por motivos profissionais
e tudo que encontrava com cheiro a flores insulares e a mar sentia curiosidade
em ler.
Helena Marques
nasceu em Carcavelos/Lx e muito cedo veio para a Região com os pais madeirenses,
aqui viveu, estudou e trabalhou até regressar a Lisboa aceitando uma proposta
de trabalho e ficando por lá…
Os enredos que
criou e os temas que escolheu giram à volta da sociedade madeirense, das
classes sociais, das famílias, da emigração, dos fluxos de gentes que sempre chegam
e partem da Região.
Li Os
Íbis Vermelhos da Guiana (2002), um magnifico romance sobre a emigração
para a Guiana francesa.
Na altura
sabia que o seu romance mais premiado fora o Último Cais (1992), mas
aquele que sempre senti vontade de ler foi precisamente este, A Deusa Sentada.
Encontrei-o em
outubro passado numa venda de livros usados, foi amor à primeira vista,
trouxe-o comigo de volta à Ilha…
Gosto da forma como Helena Marques escreve sobre o passado mais distante, sobre a contemporaneidade, relações familiares…
Com a autora, em A Deusa Sentada, viajamos através do tempo e do espaço, voámos da
Ilha da Madeira até Lisboa, seguimos até Malta, um arquipélago composto por
inúmeras ilhas e ilhotas, onde Malta, Gozo e Comino, são as maiores e mais
populosas, parámos em Gibraltar, para tal como os refugiados gibraltinos rumarmos
em direção à Região.
“Sabe de que
me lembro quando penso na pequena Deusa Sentada de Hagar Qim [templo - um monumento
megalítico]? Em Malta. Malta é como a Deusa sentada. Forte, intrépida, imperturbável,
paciente, vendo chegar invasor atrás de invasor na certeza de que todos
acabariam por partir, guardando o que cada vaga trazia de bom, ignorando o que
era inútil ou maléfico, ensinando o seu povo a resistir e a preservar os
valores tradicionais e também, lucidamente, a distinguir e a assimilar
os valores que os outros iam deixando, e mantendo-se ela, através dos tempos,
através das invasões e das conquistas, a mesma ilha-mãe acolhedora, , sedutora
misteriosa, terna e eterna… Para mim, Malta é como a pequena Deusa Sentada,
malta é a própria Deusa Sentada.”
Acabamos de
chegar de um Jantar/Tertúlia Literária, onde contei que acabara de ler este
romance e que interrompera esta reflexão para ali estar, disseram-me logo que
haveria de gostar ainda mais de ler O Último Cais…
Irei à procura dele,
entretanto, recomendo vivamente que se deixem encantar com esta escritora…
quarta-feira, 19 de junho de 2019
Livro: Seta Despedida, Maria Judite de Carvalho, Publicações Europa-América, 1995.
Mais uma
estreia, mais uma autora que me foi apresentada, aconteceu durante o ano passado que
ouvi falar de Maria Judite de Carvalho (1921-1998), uma escritora “silenciosa”,
mais conhecida do grande público por ser mulher de Urbano Tavares Rodrigues.
Maria Judite de
Carvalho voltou a ser falada depois de começar ser publicada, desta vez
pela editora Minotauro, uma chancela do grupo Almedina, ainda bem.
Existem realmente mulheres talentosas que dificilmente saem para a luz.
Existem realmente mulheres talentosas que dificilmente saem para a luz.
No ano passado
adquiri o volume II das suas obras completas (Paisagem sem Barcos, Os Armários
Vazios e O Seu Amor por Etel), mas, em outubro descobri num alfarrabista uma
primeira edição (1995), de Seta Despedida,
das Publicações Europa-América, um livro de contos e a mais premiada das suas
obras.
Relativamente à
sua escrita, primeiro estranhei a melancolia, a tristeza, a negatividade, o
abandono e a solidão das suas personagens, sobretudo mulheres que vivem vidas
de “faz-de-conta que está tudo bem”.
Todos nós sabemos
que nem tudo é claridade, felicidade, esperança e otimismo nas nossas vidas e
estes personagens espelham bem essas vivências e sentires.
Seta Despedida, é um livro de
contos muito curtos, pesados em emoções que nos fazem pensar.
Oportunamente
irei ao encontro de Maria Judite de Carvalho, uma escritora com voz própria…
quarta-feira, 12 de junho de 2019
Livro: A Hora da Estrela, Clarice Lispector, Relógio D´Água, 2002.
Ao som da 2ª
Sinfonia de Sibelius, conduzida pelo maestro Hannu Lintu, desconheço que
orquestra, concluí a leitura de um “pequeno” conto, não mais de 93 páginas, de
Clarice Lispector (1920-1977), uma escritora e jornalista nascida ucraniana e
naturalizada brasileira.
O final da peça
musical “casou” magistralmente com o terminus
do conto, a personagem principal Macabéa morre atropelada por um automóvel de
luxo, uma alagoana, nordestina, pobre muito pobre, que não se sabia e sentia
existir.
Conhecia
Clarice Lispector há muito, a sua vida trágica, a sua obra, mas, demorei a
descobrir a sua escrita, o seu jeito de entrar nas personagens.
Ainda antes do
conto, já Clarice escreveu: “… enfim que
é que se há-de fazer senão meditar para cair naquele vazio pleno que só se
atinge com a meditação. Meditar não precisa de ter resultados: a meditação pode
ter como fim apenas ela mesma. Eu medito sem palavras e sobre o nada. O que me
atrapalha a vida é o nada.”
Gostei de ler: “Que ninguém se engane, só consigo a
simplicidade através de muito trabalho.” ou “Pensar é um acto. Sentir é um facto”.
Para concluir: “Que sei eu. Se há veracidade nela – e é
claro que a história é verdadeira embora inventada – que cada um a reconheça em
si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem
pobreza de espirito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro –
existe a quem falte o delicado essencial.”
Que leitura
magnifica, meus amigos!
De Clarice
Lispector aguarda-me mais um volume de contos, não demorarei muito a regressar
a ela, quanto a Vós, meus amigos, recomendo vivamente a sua leitura…
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