“A obra de Maria
Teresa Horta (MTH) tem sido, desde a sua estreia, um contínuo questionar das
fronteiras entre a palavra e o corpo. Como escreveu António Ramos Rosa num
ensaio intitulado “MHT ou a sublevação do corpo”: “Todos os poemas da autora
são poemas em que o desejo se enuncia sem entraves, mas sem excluir o poder
encantatório de uma palavra que, na sua audácia sensual, mantêm ainda certo tom
elegíaco, e como que um murmúrio em que se esbatem os contornos da enunciação. Julgo
que a reedição de Minha Senhora de Mim
esse «desejo sem entraves», aquele poder encantatório do discurso e a «audácia sensual»
que não deixa, amiúde, de estar próxima de uma certa merencória expressão do
amor.“
quinta-feira, 30 de julho de 2015
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Livro: A confissão da leoa, Mia Couto, Caminho, 2012.
Iniciei
a leitura desta obra a fim de satisfazer um compromisso de leitura acompanhada,
o acompanhamento foi decepcionante, mas, a obra é maravilhosa.
Através
de A confissão da leoa, Mia Couto
identifica os problemas que o povo moçambicano tem enfrentado ao longo dos
anos: num tempo antes da independência e mesmo após a independência do país.
“-
Na guerra, os pobres são mortos. Na paz, os pobres morrem.”
Uma
realidade sombria e muito sofrida tanto por homens como por mulheres, uma vida
pobre e difícil que se esconde por detrás das praias paradisíacas e do carácter
afável das suas gentes.
Gosto
muito de ler Mia Couto, gosto da sua forma de escrever, cheia de metáforas e de
palavras novas: o português moçambicano.
“A
gente vive sem pedir e morre sem ter licença.”
Estabeleci
em tempos idos e de modo próprio, um plano de leituras, interrompi-o para
experienciar algo diferente, mas, não gostei nada, por isso vou regressar ao
meu plano, seja ele lá qual for…
É
que também eu, “Sou feliz apenas antes de viver. Só tenho lembrança no que
sonho. Por isso escrevo.”, mas, eu não escrevo, eu leio…
Termino
recomendando-vos meus amigos, a leitura desta e de outras maravilhosas obras do
Mia Couto.
domingo, 12 de julho de 2015
Livro: A Rainha Ginga e de como os africanos inventaram o mundo, José Eduardo Agualusa, Quetzal, 2014
Junto
ao mar, num cenário deveras apropriado, terminei a leitura do romance levemente
histórico, A Rainha Ginga e de como os
africanos inventaram o mundo, do escritor, luso-angolano, ou será o inverso?
José Eduardo Agualusa.
J.
Eduardo Agualusa é um escritor de quem gosto muito, já li várias obras suas e
de todas gostei, umas mais do que de outras, é certo, mas, de um modo geral
aprecio bastante a sua escrita.
A
ação deste romance decorre entre Luanda e territórios circundantes e o litoral
do outro lado do Atlântico, Pernambuco, e as cidades de Olinda e Recife. Numa
narrativa bastante ágil e movimentada, mas, sem a profundidade de outra obra,
como A Gloriosa Família de Pepetela,
é um romance muito interessante, um olhar visto por um “…dos secretários da rainha, um padre pernambucano em plena crise de fé,
o agitado século em que esta viveu.”
Existirão
certamente muitas histórias a serem contadas pelo lado dos africanos sobre os
tempos da escravatura, dos reis/sobas, dos conquistadores e dos conquistados.
Como
cidadã deste século, não me orgulho do nosso passado, mas a história tem que
ser contada.
Recomendo
a leitura de A Rainha Ginga e da obra
do José Eduardo Agualusa…
sexta-feira, 10 de julho de 2015
António Araújo e Felipa Melo, in revista Ler, Verão de 2015
Ontem terminei a leitura de um pequeno ensaio na revista Ler, da autoria de António Araújo, subordinado ao tema "Consciência de Situação - Ensaio sobre The Falling Man".
Eu nunca tinha lido nada assim! Nem fazia a mais pequena ideia de que se calcula que no dia 11/09/2001, cerca de 200 pessoas tenham saltado das Torres Gémeas, "jumpers", o nome que dão aqueles que se atiram ou caem dos arranha-céus.
Um extraordinário e comovente ensaio!
Hoje li um outro texto sobre uma realidade muito mais próxima, "Os últimos marinheiros", um texto de Filipa Melo.
Eu nunca tinha lido nada assim! Nem fazia a mais pequena ideia de que se calcula que no dia 11/09/2001, cerca de 200 pessoas tenham saltado das Torres Gémeas, "jumpers", o nome que dão aqueles que se atiram ou caem dos arranha-céus.
Um extraordinário e comovente ensaio!
Hoje li um outro texto sobre uma realidade muito mais próxima, "Os últimos marinheiros", um texto de Filipa Melo.
"Há três espécies de seres: os vivos, os mortos e os que andam no mar"
(Anacársis)
“O colapso da
frota bacalhoeira portuguesa não beliscou em nada o amor multissecular e
incondicional do português pelo fiel
amigo, no prato. (…)
Como bem disse
José Quitério. «esquecendo a tortura que a todos afligistes na infância – ai, o
malfadado óleo do teu fígado! – deram-te o aconchego das batatas, beliscaram-te
com o grão, meteram-te entre fofos cobertores de farinha, coroaram-te com
couves, cebolas e ovos, como um rei. Segmentaram-te em bolinhos e até te
pediram que fosses sonhos. Cozeram-te, grelharam-te, assaram-te, guisaram-te,
fritaram-te, albardaram-te, rechearam-te, arrozaram-te, exigiram-te consolos de
consoadas, e só não te negaram três vezes porque, desalinhado e simples como
és, recusaste a dimensão divina.» No final, esqueceram-se da tortura de quem te
pescou, durante tanto tempo, à custa de tanto sacrifício. Há quem diga que é
preciso ir para o mar, para aprender a rezar. E tenha razão.”
terça-feira, 7 de julho de 2015
Octogésimo aniversário da Senhora minha Mãe
Mãe, quando as palavras me faltam, peço ajuda aos poetas:
“Minha Memória Cetim
“Minha Memória Cetim
A minha mãe
Minha mãe
mulher-infância
*
Meus cabelos
revoltados
minhas longas
pernas nuas
meu espelho
desirmanado
*
Minha mãe
mulher-infância
com sua pele
marfim
*
minha água de
beber
minha memória
cetim”
Maria Teresa
Horta
in Minha Senhora
de Mim, D. Quixote, 2015 (1ª
edição 1971)
quinta-feira, 2 de julho de 2015
Eduardo Lourenço, entrevista de Paulo Moura, in revista Ler nº 138, Verão de 2015
Ouvindo uma
canção, Há uma música do Povo, interpretada
pela Mariza, cuja letra é de Fernando Pessoa e música de Mário Pacheco, partilho
convosco, três reflexões que me marcaram na entrevista que Eduardo Lourenço deu
a Paulo Moura, in revista Ler nº 183,
Verão de 2015:
“A tragédia
individual atenua-se no destino coletivo, tal como a idade nos anestesia do
medo da morte. Enganamo-la, até que alguém que amamos desaparece, e percebemos
que essa eternidade nos é interdita. A Reforma e depois o fim da religião
deixaram-nos sozinhos e desesperados. Estamos na hora zero do mundo, tornámos
realidade a ficção científica, talvez não impunemente. Em que ponto estamos da
História humana? Como seria o mundo se a Europa voltasse a ter protagonismo? E nós,
portugueses, seria possível termos saído do império, sem sair? Como viveremos
álibis? Tal como os homens, também as nações têm uma infinita capacidade de
ilusão.”
“A Europa tem um
problema, desde que existe: não sabe lidar com o Outro, o não-europeu.
Aconteceu no tempo de Alexandre, e sobretudo quando surgiu outro fenómeno, que
conquistou uma dimensão planetária: o islão. Vivemos séculos lado a lado vivemos
séculos lado a lado sem que os víssemos, ou eles nos vissem a nós. O Império
Turco foi para a Europa, uma espécie de União Europeia, desde 1453. Agora toda
essa massa emerge, fruto da descolonização, numa espécie de sonambulismo histórico.
Como podemos imaginar a integração do islão, que representou durante séculos a
não-Europa, e não sabemos o que fazer com a Rússia? Como pode a Turquia entrar
na União Europeia e a pátria de Tolstói e de Dostoievski ficar de fora?”
“Com o fim do império, estamos no fim da nossa narrativa. Depois do 25 de Abril todas as
grandes manifestações, todos os acontecimentos importantes para nós, funcionam
como referência ao império perdido. É a Ponte Vasco da Gama, a Europália… O que
levámos? A gesta dos Descobrimentos. Não temos mais prata da casa para levar. A
narrativa está no fim, mas por enquanto o nosso lugar de fuga ideal ainda não é
esse momento. O nosso problema agora é que não temos álibi.”
“O nosso ensino
ainda é muito orientado para o literário. Sei que é um povo com grandes tendências
líricas, etc. Mas devíamos recuperar um pouco a energia que outros povos
puseram na descoberta e trabalho científicos, na organização. Porque vivemos num
mundo de competição feroz. Penso que será mais fácil recuperar uma
desertificação das Humanidades do que a outra, onde, se não se tem uma formação
sistemática, nunca mais se apanha o comboio.”
Eduardo Lourenço
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