sábado, 27 de junho de 2015

Livro: Retrato do Artista quando Jovem, James Joyce, Relógio D’Água, 2012.

Tenho lido ao longo dos anos muitos livros, uns interessantes, outros giros, alguns curiosos, outros nem tanto, mas, depois, existem os bons. Os livros bons, para mim, são aqueles que definitivamente me acrescentam algo, quer a nível literário, quer a nível pessoal e intelectual.
A primeira obra que leio de James Joyce, Retrato do Artista quando Jovem, é um magnífico exemplo de um livro que consideraria, ou melhor, que considero um livro bom, é denso, substancial, magistralmente escrito, tem conteúdo.
Existem outras obras, porventura mais conhecidas deste escritor irlandês, desejava aliás, ter começado com o Ulisses, mas aconselharam-me a não me “atirar” logo a essa obra, indicaram-me este título ou então o Gentes de Dublin, apareceu-me primeiro este…

A novela descreve a infância em Dublin de Stephen Dedalus e a sua busca de identidade. As diferentes fases da vida do protagonista, da infância à vida universitária, refletem-se em mudanças no estilo narrativo. Os aspetos biográficos são tratados com irónico distanciamento, num trajeto que culmina com a rotura com a igreja e a descoberta de uma vocação artística.
A obra é também um reconhecível auto-retrato da juventude de James Joyce, assim como uma homenagem universal à imaginação dos artistas.”
«As ciladas do mundo eram as oportunidades que este proporcionava para pecar. Ele acabaria por cair em tentação. Ainda não caíra, mas haveria de cair, em silêncio, num breve instante. Não cair era demasiado árduo, demasiado árduo; e ele sentia a queda silenciosa da sua alma, tal como iria ocorrer num instante futuro, a cair em tentação, a cair mas sem ainda ter caído, ainda sem ter caído mas prestes a cair

Pág.161

«Não te fatiga um tal viver ardente,
Negaça do caído serafim?
Cessem encantos do tempo silente.

Queimam teus olhos com lume mordente
Feitos humanos que vergaste enfim.
Não te fadiga um tal viver ardente?

Sobem dos mares até ao poente
Laudes de fumo sem chama carmim.
Cessem encantos do tempo silente.

Eucarístico hino em voz plangente
Lançamos aos céus em triste clarim
Não te fatiga um tal viver ardente?

Mãos sacrificiais da alma crente
O cálice já cheio erguem assim.
Cessem encantos do tempo silente.

Em beleza tréguas não consente
Langor no gesto e na pele cetim!
Não te fatiga um tal viver ardente?
Crescem encantos do tempo silente.»

Pág.221

«Sim, gostei dela hoje. Um bocadinho ou muito? Não sei. Gostei dela, o que me parece um novo sentimento. Então, nesse caso, tudo o resto, tudo o que pensei que pensava e tudo o que senti que sentia, tudo o resto que antes sucedeu, na realidade… Ah, desiste, velho amigo! Vai dormir, que isso passa-te

Pág. 249


Uma delícia de livro, meus amigos, recomendo vivamente a leitura desta obra, quanto a mim, aguardo ansiosa a oportunidade de ler outra vez James, James Joyce… 



1 comentário:

  1. Vou seguir o conselho e lançar-me rapidamente na leitura deste «Retrato do Artista quando Jovem». A minha experiência com o «Ulisses» foi tão penosa, que adiei, «sine die», a incursão no universo diegético de James Joyce. O meu amadurecimento na cultura clássica ajudou-me a entender um dos mais enigmáticos romances da modernidade. Homero está lá todo, mas é preciso um esforço épico para o desencantar. Boa coragem para iniciar essa odisseia irlandesa e obrigado pelas notas de percurso da etapa já terminada.

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