"É que por vezes são histórias sobre o real que me fatigam. São muitos os livros de menos literatura, em que apenas se conta uma história. Não quero que me contem histórias. Gosto de falar de uma escrita holográfica. Os hologramas são unidimensionais, mas têm outras realidades lá dentro. É essa visão holográfica que me interessa. Se houver essa profundidade, várias camadas além do real imediato, aí esse contemporâneo já fala comigo. Se não for apenas a superfície do que é visível, porque nesse registo da superfície só se pode contar uma história. O alcance do que está para lá faz-se através do ajustamento e da coabitação de palavras que comummente não coabitam.”
“A familiaridade
está a entorpecer as pessoas. Tudo é tão familiar que já não olhamos para as
palavras de novo. Devíamos estranhá-las sempre que as usamos, sentir o seu
deslumbramento. Quando escrevo, gosto de procurar devolver estranheza às
coisas. Porque o mundo é estranho. Só que estamos tão habituados às mortes, à
morte das crianças, ao pedinte estende a mão, que não estranhamos nada. Nem as
palavras.”
Hélia Correia,
in Entrevista de Maria
Leonor Nunes, JL nº 1167 de 2015-07-07
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