Tenho
lido ao longo dos anos muitos livros, uns interessantes, outros giros, alguns
curiosos, outros nem tanto, mas, depois, existem os bons. Os livros bons, para
mim, são aqueles que definitivamente me acrescentam algo, quer a nível
literário, quer a nível pessoal e intelectual.
A
primeira obra que leio de James Joyce, Retrato
do Artista quando Jovem, é um magnífico exemplo de um livro que
consideraria, ou melhor, que considero um livro bom, é denso, substancial,
magistralmente escrito, tem conteúdo.
Existem
outras obras, porventura mais conhecidas deste escritor irlandês, desejava aliás,
ter começado com o Ulisses, mas
aconselharam-me a não me “atirar” logo a essa obra, indicaram-me este título ou
então o Gentes de Dublin, apareceu-me
primeiro este…
“A novela descreve a infância em Dublin de
Stephen Dedalus e a sua busca de identidade. As diferentes fases da vida do
protagonista, da infância à vida universitária, refletem-se em mudanças no
estilo narrativo. Os aspetos biográficos são tratados com irónico
distanciamento, num trajeto que culmina com a rotura com a igreja e a
descoberta de uma vocação artística.
A obra é também um
reconhecível auto-retrato da juventude de James Joyce, assim como uma homenagem
universal à imaginação dos artistas.”
«As ciladas do mundo eram as oportunidades
que este proporcionava para pecar. Ele acabaria por cair em tentação. Ainda não
caíra, mas haveria de cair, em silêncio, num breve instante. Não cair era
demasiado árduo, demasiado árduo; e ele sentia a queda silenciosa da sua alma,
tal como iria ocorrer num instante futuro, a cair em tentação, a cair mas sem
ainda ter caído, ainda sem ter caído mas prestes a cair.»
Pág.161
«Não te fatiga um tal viver ardente,
Negaça do caído
serafim?
Cessem encantos do
tempo silente.
Queimam teus olhos com
lume mordente
Feitos humanos que
vergaste enfim.
Não te fadiga um tal
viver ardente?
Sobem dos mares até ao
poente
Laudes de fumo sem
chama carmim.
Cessem encantos do
tempo silente.
Eucarístico hino em voz
plangente
Lançamos aos céus em
triste clarim
Não te fatiga um tal
viver ardente?
Mãos sacrificiais da
alma crente
O cálice já cheio
erguem assim.
Cessem encantos do
tempo silente.
Em beleza tréguas não
consente
Langor no gesto e na
pele cetim!
Não te fatiga um tal
viver ardente?
Crescem encantos do
tempo silente.»
Pág.221
«Sim, gostei dela hoje. Um bocadinho ou
muito? Não sei. Gostei dela, o que me parece um novo sentimento. Então, nesse
caso, tudo o resto, tudo o que pensei que pensava e tudo o que senti que
sentia, tudo o resto que antes sucedeu, na realidade… Ah, desiste, velho amigo!
Vai dormir, que isso passa-te!»
Pág.
249
Uma
delícia de livro, meus amigos, recomendo vivamente a leitura desta obra, quanto
a mim, aguardo ansiosa a oportunidade de ler outra vez James, James Joyce…