Mais uma estreia, desta vez aventurei-me por um conjunto de ensaios de Albert Camus (1913-1960), alguns deles bastante duros, mas todos interessantes.
Esta foi a sua primeira obra publicada “(…) em 1937, em Argel, tinha então vinte e três anos. Só em 1958, mais de vinte anos passados, Camus aceitou ver o título reeditado. E ao reler este conjunto de ensaios da sua juventude descobriu neles a raiz dos temas que alimentaria toda a sua obra. Aqui se apresenta o mundo da pobreza, de pó e de luz da sua infância, aqui se reflete sobre a solidão e a indiferença, aqui se vê despontar a descoberta do absurdo da existência. Este é pois, um texto basilar para o conhecimento de um dos grandes autores da literatura moderna, que nunca perdeu, nas suas palavras, «o apetite desordenado de viver»”.
“Por mim, sei que a minha fonte está em O Avesso e o Direito, nesse mundo de pobreza e de luz em que vivi por muito tempo e cuja recordação me preserva ainda dos dois perigos contrários que ameaçam todos os artistas: o ressentimento e a satisfação.”
“Apesar de viver hoje sem os cuidados do amanhã, como privilegiado portanto, não sei possuir. Do que tenho, e que me é sempre oferecido sem que o tenha procurado, não posso guardar nada. Menos por prodigalidade, parece-me, do que por uma outra espécie de parcimónia: sou avaro daquela liberdade que desaparece logo que começa o excesso de bens.”
“Em breve ficou só, apesar dos seus esforços e mentiras para tornar mais atraente a sua narrativa. Sem consideração, os jovens tinham-se ido embora. De novo só. Já não ser escutado: é isso que é terrível quando se é velho. Condenavam-no ao silêncio e à solidão. Faziam-lhe notar que ia morrer em breve. E um homem velho que vai morrer é inútil, mesmo incomodo e insidioso. Que se vá. Senão que se cale: é a menor das atenções. E ele sofre porque não pode calar-se sem pensar que está velho.”
“Ele caminhava agora, na doce teimosia do seu passo. Estava só e velho. No fim de uma vida, a velhice transforma-se em náusea. Tudo termina em deixar de ser ouvido.”
“Os homens constroem sobre a velhice que há de vir.”
“Entre este direito e este avesso do mundo,
eu não quero escolher, não gosto que se escolha.”
Concluindo, senão transcrevo todo o livro, o melhor mesmo é lerem O Avesso e o Direito…
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