sábado, 15 de setembro de 2018

Livro: Uma Mulher na Arábia - Os Diários da Rainha do Deserto, Gertrude Bell, Relógio D’Água, 2017.


Terminei ontem à noite a minha vigésima segunda aventura literária, pela mão de Gertrude Bell (1808-1926) viajei literalmente pelo deserto arábico.

Gertrude B. depois de se formar com distinção em História Moderna na Universidade de Oxford, tornou-se uma das maiores viajantes do século XX, mas não só, foi também montanhista, estadista, linguista, arqueóloga, fotógrafa e escritora.

Foi responsável pelas políticas britânicas no Médio Oriente após a Primeira Grande Guerra, dedicando a sua vida à questão árabe, a ponto de redefinir as fronteiras que constituem hoje o Médio Oriente.”

Apesar de este livro ser composto por “uma seleção da sua correspondência privada e militar, entradas de diário e escritos de viagem”, em pouco mais de 200 páginas, pude entrar no seu mundo, vislumbrar o muito que viu e sentiu, construindo pontes entre o Ocidente e o Oriente Médio.

Achei interessante a forma como descreveu os povos arábicos, pelos quais nutre uma evidente e comovente admiração:

“ (…) a sabedoria deles é a de homens cujos canais de informação e padrões de comparação são diferentes dos nossos e que trazem um conjunto de ideias diferentes preconcebidas para lidar com os problemas que lhes são colocados. O oriental é como uma criança com muita idade. Está pouco familiarizado com muitas ramificações de conhecimento que nós passámos a considerar como sendo de necessidade básica; frequentemente, mas nem sempre, a sua mente está pouco preocupada com a necessidade de as adquirir e interessa-se muito pouco por adquirir o que nós chamamos de utilidade prática.”

“ (…) Por outro lado, os seus atos baseiam-se em tradições de conduta e moralidade que remontam ao início da civilização, tradições que permanecem inalteradas por qualquer mudança importante ao modo de vida às quais se aplicam e das quais originam.”

Gertrude B. mostrou ao Ocidente a forma de viver e pensar de povos que habitavam a Mesopotâmia e toda a Arábia, mas, sem descurar os interesses geoestratégicos britânicos na área, até por causa do petróleo:

Abadan, a refinaria da Anglo-Persian Oil Company, ficou doravante a salvo, e sendo um objeto cuja proteção era uma das principais obrigações do Exército, passou a assumir, durante o resto da Guerra [Primeira Grande Guerra], o papel de abastecedor de petróleo bruto, de querosene e de gasolina para cada um dos departamentos de Sua Majestade. O registo do seu trabalho é algo do qual todos aqueles associados ao mesmo, assim como aos campos petrolíferos longínquos dos quis depende, se devem orgulhar.”

Para terminar refiro ainda, o seu contributo para o esforço de guerra trabalhando na secretaria com estatísticas e troca de correspondência entre serviços e sobretudo com familiares buscando informação sobre os entes queridos:

2 de fevereiro de 1915, carta para Chirol

Calcula-se que a duração média de um soldado na frente seja de certa de um mês, antes de ficar ferido… A conquista, a perda e a reconquista de uma trincheira é tudo o que importa; e, por causa disso, perderam-se 4000 vidas nos últimos meses. Um desperdício horrendo…”

Uma leitura muito agradável e bem escrita, recomendo vivamente a sua leitura…


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