Terminei ontem à noite a minha vigésima segunda
aventura literária, pela mão de Gertrude Bell (1808-1926) viajei literalmente pelo
deserto arábico.
Gertrude B. depois de se formar com distinção em
História Moderna na Universidade de Oxford, tornou-se uma das maiores
viajantes do século XX, mas não só, foi também montanhista, estadista,
linguista, arqueóloga, fotógrafa e escritora.
“Foi
responsável pelas políticas britânicas no Médio Oriente após a Primeira Grande
Guerra, dedicando a sua vida à questão árabe, a ponto de redefinir as
fronteiras que constituem hoje o Médio Oriente.”
Apesar de este livro ser composto por “uma seleção da sua correspondência privada e
militar, entradas de diário e escritos de viagem”, em pouco mais de 200
páginas, pude entrar no seu mundo, vislumbrar o muito que viu e sentiu,
construindo pontes entre o Ocidente e o Oriente Médio.
Achei interessante a forma como descreveu os
povos arábicos, pelos quais nutre uma evidente e comovente admiração:
“ (…) a
sabedoria deles é a de homens cujos canais de informação e padrões de
comparação são diferentes dos nossos e que trazem um conjunto de ideias
diferentes preconcebidas para lidar com os problemas que lhes são colocados. O
oriental é como uma criança com muita idade. Está pouco familiarizado com muitas
ramificações de conhecimento que nós passámos a considerar como sendo de necessidade
básica; frequentemente, mas nem sempre, a sua mente está pouco preocupada com a
necessidade de as adquirir e interessa-se muito pouco por adquirir o que nós
chamamos de utilidade prática.”
“ (…) Por
outro lado, os seus atos baseiam-se em tradições de conduta e moralidade que
remontam ao início da civilização, tradições que permanecem inalteradas por
qualquer mudança importante ao modo de vida às quais se aplicam e das quais
originam.”
Gertrude B. mostrou ao Ocidente a forma de viver
e pensar de povos que habitavam a Mesopotâmia e toda a Arábia, mas, sem
descurar os interesses geoestratégicos britânicos na área, até por causa do
petróleo:
“Abadan, a
refinaria da Anglo-Persian Oil Company, ficou doravante a salvo, e sendo um
objeto cuja proteção era uma das principais obrigações do Exército, passou a
assumir, durante o resto da Guerra [Primeira Grande Guerra], o papel de
abastecedor de petróleo bruto, de querosene e de gasolina para cada um dos
departamentos de Sua Majestade. O registo do seu trabalho é algo do qual todos
aqueles associados ao mesmo, assim como aos campos petrolíferos longínquos dos
quis depende, se devem orgulhar.”
Para terminar refiro ainda, o seu contributo
para o esforço de guerra trabalhando na secretaria com estatísticas e troca de correspondência
entre serviços e sobretudo com familiares buscando informação sobre os entes
queridos:
“2 de
fevereiro de 1915, carta para Chirol
Calcula-se
que a duração média de um soldado na frente seja de certa de um mês, antes de
ficar ferido… A conquista, a perda e a reconquista de uma trincheira é tudo o
que importa; e, por causa disso, perderam-se 4000 vidas nos últimos meses. Um desperdício
horrendo…”
Uma leitura muito agradável e bem escrita,
recomendo vivamente a sua leitura…