A
leitura de um livro como A Biblioteca à Noite, de Alberto Manguel,
encheu-me de sentimentos vários, alegria, espanto, desalento, mas
também
esperança e certeza de que o que sinto pelos livros e pela leitura
não é coisa de extraterrestre.
Conhecer um bibliófilo como Alberto Manguel, com uma
vida desenvolvida à volta dos livros, lendo, escrevendo,
pesquisando, comparando, procurando, adquirindo, acumulando,
cuidando, foi como que uma epifania para mim, esta sim, seria a
vida que gostaria de ter vivido e de viver.
O
tamanho das nossas casas não permite que acumulemos muitos livros,
mas para quem gosta de ler, encontrar
um canto onde acomodar os livros que vai adquirindo ao longo da vida torna-se um imperativo.
Não
me refiro evidentemente a estudiosos e académicos que organizam a
sua vida profissional e familiar à volta de livros e documentos, mas, aqueles que
como eu lêem por puro prazer e em busca de novos saberes.
Este
ensaio dá-nos a conhecer, entre muitas coisas, a origem das coleções que se
transformaram em bibliotecas, dos seus objetivos enquanto sinal de
prestígio dos seus donos, mas também um meio de congregar o
conhecimento passado, com o intuito de conhecer, estudar e alavancar
a produção de novos saberes, a génese das bibliotecas públicas
com o objetivo de tornar acessível a todos aqueles que sentindo
curiosidade, não possuíam capacidade económica para serem donos da sua
própria coleção.
O
autor questiona a sobrevivência da biblioteca versus internet, mas manifesta-se otimista:
“É
interessante notar que, para os humanos, existia uma correlação
entre a suspeita de um espaço ilimitado que não pertence a ninguém
e o conhecimento de um passado rico que nos pertence a todos.
Isto
é, evidentemente, o exacto reversos da definição da World Wide
Web. A Web define-se como um espaço que pertence a todos e exclui a
noção de passado.”
Concluindo:
“Os
livros são os nossos maiores bens na vida, são a nossa
imortalidade. Arrependo-me profundamente de nunca ter possuído uma
biblioteca só minha.
Varlam
Chalamov, My Libraries.”
Tal
como Alberto Manguel, o que procuro com a minha [pequena] biblioteca
é consolação.
Regressarei
a Alberto Manguel.