Terminei
a leitura de um livro com milhões de fantasmas à minha beira, fantasmas dos que
morreram, dos que foram mortos, dos que sobreviveram, dos deslocados, dos
refugiados, dos que restaram na Europa do pós-Segunda Guerra Mundial.
Este
livro é uma compilação de três ensaios resultantes de um pedido que uma
publicação britânica fez à autora, para cobrir os julgamentos de Nuremberga, em
1946.
Com
esta leitura fiquei a saber um mais sobre os nazis, os alemães, os berlinenses,
os soviéticos, os americanos, os britânicos, os franceses e sobre Berlim e
Nuremberga.
O
primeiro ensaio, o mais longo, incide sobretudo sobre Nuremberga e os seus
habitantes, os julgamentos, os réus, os acusadores, o tédio e o aborrecimento
que pairava sobre aquelas sessões aparentemente intermináveis.
No
segundo ensaio, a autora retrata o que viu e sentiu quando viajou pela Alemanha
Ocidental, até chegar a Berlim, uma cidade dividida em quatro e governada pelo
Conselho de Controlo Aliado para a Alemanha, composto por americanos,
britânicos, franceses e soviéticos.
Achei
especialmente interessante a análise que a autora faz dos próprios alemães
ocidentais, a forma tenaz, ordeira, empreendedora, que tiveram em reerguer a sua
industria logo que foram libertados, e o que isso assustou os ocidentais.
A
questão da culpa moral, que na ótica de Rebecca, os alemães contribuíram para
retirar dos ombros dos aliados ocidentais:
“É
difícil imaginar como é que outra economia que não aquela, especulativa e
livre, poderia ter sido suficientemente flexível para assimilar tantos
refugiados e aliviar os Aliados de grande parte da sua culpa.”
e
conclui:
“Os
alemães prestaram-nos um serviço ao livrarem-nos da culpa do nosso pecado
contra os refugiados”.
O
terceiro ensaio nasce na sequência da assistência a um congresso de
economistas, no Lago de Lucerna, em 1953, é uma súmula dos dois que o
antecedem, uma reflexão bastante serena, mas contundente, das decisões, da
geoestratégia vigente nas décadas subsequentes à II Guerra Mundial, e da
“vingança económica” do povo alemão.
Termino
recomendando vivamente a leitura deste livro muito interessante…
Fantasmas que de vez em quando lá conseguem uma ajuda improvável de Dioniso para virem lá do Tártaro atormentar a vida dos sobreviventes de holocaustos pretéritos e resistentes a representações futuras...
ResponderEliminar