Terminei
finalmente a leitura desta obra, não propriamente literária, mas do género
testemunhal.
Foi
a minha estreia com este escritor japonês, um escritor de quem já tinha ouvido
falar muito bem. Foi um livro que me impressionou e por vários motivos, em
primeiro lugar, o tema, o ataque com gás sarin no metro da cidade de Tóquio em
20-03-1995, um atentado perpetrado por uma seita religiosa, a Aum Shinrikyo. Já
se passaram 20 anos, mas lembro-me bem do assunto que foi amplamente noticiado
nos meios de comunicação social de então. Uma tragédia.
Impressionou-me
que o escritor tivesse sentido a necessidade de reunir e publicar sob a forma
de livro, um conjunto de testemunhos, resultantes das muitas entrevistas que
efetuou a sobreviventes, familiares e ainda a alguns membros da seita. Murakami
sentiu que o assunto ainda não se encontrava esgotado, necessitava de
compreender o porquê, e principalmente de dar voz às vítimas e aos seus
familiares.
Apreciei
bastante a forma sóbria, respeitosa e muito cuidada com que o escritor abordou
os testemunhos e escreveu sobre o que ouviu. E também a forma como organizou esses
mesmos testemunhos, antecedendo cada conjunto de testemunhos e mesmo cada
testemunho de um texto introdutório e explicativo do enquadramento do que se
seguia.
Achei
uma obra muito interessante, quer do ponto de vista humano, pois fiquei a
conhecer bastante melhor a cultura e a forma de ser e de sentir da cultura e
sociedade japonesa, quer de um ponto de vista literário.
"Ora
pois, e como é que se faz para compreender melhor o Japão?
Tinha
uma ideia bastante clara do que procurava. No fundo o que se passava era que,
tendo feito uma boa limpeza a todas as minhas questões emocionais, precisava de
saber mais sobre o Japão enquanto sociedade. Tinha de aprender mais sobre os
japoneses no seu conjunto, enquanto forma de consciência. quem éramos nós como
povo."
Com
a certeza de voltar a este escritor, termino esta reflexão, recomendando a
leitura de "underground" de Haruki Murakami.
Tenho alguns Murukami na prateleira de arrumar livros cá de casa em lista de espera para demonstrarem o que valem. Um dia destes lá me porei a ouvir as suas histórias...
ResponderEliminarArtur, este livro é um documento que tem a particularidade de ter sido escrito por um romancista de créditos firmados.
EliminarPossui uma escrita fluída e muito bem organizada.
Existem muitas ideias pré-concebidas acerca da sociedade japonesa, mas ao que me pareceu, ao próprio escritor, que vive fora do país, também as reações e o stress pós-traumático dos seus concidadãos lhe pareceram algo estranhas e claro, pouco faladas. Daí a necessidade que sentiu em explorá-las, sendo escritor, nada melhor do que utilizar a escrita...