Iniciei a
leitura da obra “Meninas” de Maria Teresa Horta. É um livro de contos e ao ler
o primeiro, Lilith (a primeira mulher), deparei-me com a mais extraordinária e
fascinante narrativa dentro de um ventre materno, de uma riqueza de
sentimentos, de uma beleza plástica que me comoveu, enquanto mulher, mãe e
sobretudo, enquanto filha. Fabuloso!
Que outras
surpresas me aguardarão?
“Viras-te de costas com lentidão indiferente,
obrigando-me à imobilidade, emparedada pelos teus músculos, entre tendões,
artérias e ligamentos; os ossos das ilhargas a demarcarem-te o ventre, nos
quais desatenta me magoo e me detenho, sufocando, arfando um tudo-nada. Paro,
engulo os humores espessos que se formaram na minha garganta, e desloco-me com
a intenção de copiar as posições que tomas na cama; e desse modo chego à tua
beira, pelo sítio onde se inicia a subida até à tua cintura agora inexistente.
Numa
avidez febril.”
“Surpresa, sinto chegar a dor: seta afiada,
ácida, laminada, a lacerar-me as articulações dos braços, idênticos a delgados
juncos, enroscados em torno do lugar onde fantasio situar-se a curva das tuas
ancas. Iço-me, relutante, pois deixei de escutar-te os gemidos, não obstante
continuar a saborear-te o áspero sal das lágrimas, que me enchem a boca com o
sabor ázimo da vertigem. Por segundos aquieto-me interdita, até julgar
reconhecer ao longe o azul transparente do cintilante cristal dos teus olhos. E
apesar das sombras, retrocedo no sentido inverso daquele para onde, sem dar por
isso, começo a ser empurrada, mansa na tentativa de ganhar alento, nesse
devaneio regressando ao ponto de partida.”
Boa continuação de leituras e de descoberta da beleza plástica que existe no seio das palavras, quando são desenhadas pelos criadores iluminados dos heróis da imaginação...
ResponderEliminarObrigada Artur!
EliminarAo fim de tantas leituras, continuo ser surpreendida!
E a Maria Teresa, continua a maravilhar-me!
Ela é divinal! Quem me dera que todos os escritores fossem assim...