terça-feira, 18 de agosto de 2015
sábado, 15 de agosto de 2015
Livro: O Feitiço da Índia, Miguel Real, D. Quixote, 2012.
Conheço
o Miguel Real através das críticas literárias que elabora para o Jornal de
Letras, também já tive o prazer de o ouvir no Festival Literário da Madeira, na
edição de 2014.
Esta
incursão pela sua escrita ficcional levou-me até à Índia, mais especificamente
até Goa, conhecida como «a Roma do Oriente», pelo seu elevado número de
igrejas.
Este
é um romance histórico, mas não inteiramente, é estranho e é complexo.
O
Feitiço da Índia conta a história de
três homens, alegadamente, a história do primeiro português a pisar solo
indiano (no tempo das Descobertas), depois, um segundo personagem que nos anos
sessenta viaja até Goa, à procura de uma vida melhor, mas, que acabando por
esquecer a família que deixara em Lisboa, em Goa constitui nova família e por
lá morre. Finalmente, um terceiro homem, que nem por acaso é o narrador de toda
esta história e filho do segundo personagem, após a morte de sua mãe, que toda
a sua vida esperara pelo marido, parte em busca dele, durante o politicamente
quente ano de 1975.
«Através da experiência destas três
personagens inesquecíveis – e com a ironia e a qualidade a que Miguel Real nos
habituou -, Miguel Real oferece-nos o retrato fascinante de Goa e da costa do
Malabar, na Índia, em três épocas marcantes da sua história.»
Da
escrita de Miguel Real, gostei de uma forma intermitente. Possui passagens
muito boas, mas outras nem tanto.
Termino
recomendando a leitura deste romance, para que de moto próprio tirarem as
vossas conclusões.
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Hélia Correia in Prelúdio à morte da fala, JL nº 1169 de 2015-07-22
“No meu diário
de hoje escrevo assim: Ao instinto territorial, sempre presente no animal que
somos, eles contrapuseram a noção da hospitalidade. Já na Ilíada lemos uma cena grandiosa sobre dois inimigos em combate que,
ao reconhecem-se como hóspede e como anfitrião, depõe as armas e as trocam
depois como presentes:
“…troquemos,
pois, as armas, a fim
de que estes
saibam
que nos sentimos
honrados com a
hospitalidade
dos nossos maiores.
*
Depois de assim
falarem, saltaram
dos seus
cavalos,
apertaram as
mãos e juraram lealdade” (Canto VI, 230-233)
Depois
transcrevo esta passagem de Hesíodo
“…É essa a lei
que o Crónida
Prescreveu aos
homens:
que os peixes,
os animais selvagens e
os pássaros
alados
se devorem uns
aos outros, pois
entre eles não
há Justiça: mas aos homens deu ele a Justiça,
em muito o maior
dos bens…”
(Trabalhos e Dias, 275-280)
Devo anotar que
estes poemas contam 2800 anos.
Três séculos depois,
as palavras de Péricles:
“O regime
político que nós seguimos não inveja as leis dos nossos vizinhos, pois temos
mais de paradigmas para os outros de que de seus imitadores. O seu nome é
democracia, pelo facto de a direção do Estado não se limitar a poucos, mas se
estender à maioria; em relação às questões particulares, há igualdade perante a
lei; quanto à consideração social, à medida em que cada um é conceituado, não
se lhe dá preferência nas honras públicas pela sua classe, mas pelo seu mérito;
nem tão-pouco o afastam pela sua pobreza, devido à obscuridade da sua
categoria, se for capaz de fazer algum bem à cidade.
(…) Amamos o
belo com simplicidade e prezamos a cultura sem moleza (…) E somos os únicos que
ajudamos alguém, não tanto com a mira nas vantagens, como com a confiança
própria de homens livres”. (Tucídides, Livro II)
Assim falavam. E
assim falou Demóstenes no século seguinte, quando invasores por um lado,
traidores e intriguistas pelo outro, se uniam para escravizar a Grécia:
“Mas não, não é
possível que tenhais cometido um erro, Atenienses, ao tomar sobre vós o risco
de lutar pela liberdade e a salvação comum”. (Oração da Coroa, 208) ”
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Valter Hugo Mãe in Livros, JL nº 1169 de 2015-07-22
“Não tenho
condições financeiras para gostar tanto de livros. Preciso de tratamento para o
impulso de comprar mais, ler, querer ler, esperar por ler, reter ideias, reter
a beleza das expressões, apreciar o complexo das capas, a beleza das capas,
pensar em cores. A minha casa não sabe ter mais livros, por mais que a treine
para a elasticidade, por mais que lhe explique acerca dos amores absolutos., as
dependências, as carências. A minha casa acha que estou maluco e talvez prefira
expulsar-me um destes dias.”
domingo, 2 de agosto de 2015
Guilherme D’Oliveira Martins in Sophia, Maria de Jesus e Alberto, JL nº 1169 de 2015-07-22
“Em «Carta aos
Amigos Mortos», Sophia disse-nos tudo o que pode ser dito neste momento. Não só
lembra quantos nos deixaram, mas também compreende a força libertadora da
poesia.
“Eis que
morreste - agora já não bate
O vosso coração
cujo bater
Dava ritmo e
esperança a meu viver
Agora estais
perdidos para mim
- O olhar não
atravessa esta distância –
Nem irei
procurar-vos pois não sou
Orpheu tendo
escolhido para mim
Estar presente
onde estou viva
Eu vos desejo a
paz nesse caminho
Fora do mundo
que respiro e vejo…”
(livro sexto,
1962)
Quando nos deixa
alguém próximo, como agora aconteceu, não há palavras. Mas tudo estava dito,
quando ouvimos:
“E eu vos peço
por este amor cortado
Que vos lembrai
de mim lá onde o amor
Já não pode
morrer nem ser quebrado
Que o vosso
coração já não bate
O tempo denso de
sangue e saudade
Mas vive a
perfeição da claridade
Se compadeça de
mim e do meu pranto
Se compadeça de
mim e do meu canto”
A escolha foi
premonitória. Esse diálogo com Sophia significa o encontro do espírito, da
lembrança e da liberdade.”
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