Muito antes de
José Saramago (1922-2010) ganhar o Prémio Nobel de Literatura (1998), cá em
casa já havia um fervoroso admirador da sua forma de contar estórias.
Naquele tempo comprávamos
livros através da revista do Circulo de Leitores, e foi através do clube que o
nome do escritor se tornou familiar no seio da nossa família, à hora do jantar,
o Luis sentia verdadeiro prazer em contar as peripécias porque iam passando a Blimunda
Sete-Luas e o Baltasar Sete-Sóis, numa estória sobre um rei que fizera uma
promessa de levantar um Convento em Mafra se a rainha engravidasse.
Mais tarde,
quando os filhos leram o Memorial do Convento, a conversa passou a ser ainda mais
animada.
Demorei muitos
anos a ler a grande obra, mas, gostei mais de Levantado do Chão, o
romance que acabei de ler no dia 5 de maio, o Dia Mundial da Língua Portuguesa.
Um romance brutal,
atrevo-me a escrever.
O retrato de
uma forma de viver(?) cruel e desumana dos trabalhadores alentejanos, subjugados,
oprimidos e explorados pelos grandes proprietários, a igreja, a guarda e a polícia.
O romance
abarca um período compreendido entre o final do século XIX até ao 25 de abril
de 1974.
A forma de
escrever de Saramago, muito pouca pontuação e sem o sinal travessão,
obriga-nos a uma atenção redobrada, os pensamentos do narrador irrompem pelos “diálogos”
entre os personagens, gostei muitíssimo.
“E não sejam as
flores vosso cuidado, senhora mãe, que à fonte do Amieiro irei colher das
silvestres que neste mês de Maio cobrem os vales e as colinas, e estando as
laranjeiras floridas ramos delas trarei e assim nosso postigo será janela
enfeitada como varanda de alcácer, menos que os outros não seremos, porque
somos tanto.”
Concluo,
recomendo vivamente a leitura de Levantado do Chão…
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