quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Livro: Vinte Horas de Liteira, Camilo Castelo Branco, Expresso, 2016.


Iniciei o Novo Ano de forma auspiciosa, Vinte Horas de Liteira de Camilo Castelo Branco, era o primeiro livro de um novo plano de leituras no masculino, só escritores de língua portuguesa.

O ano não podia ter começado com melhor leitura, neste pequeno romance composto por curtas histórias, umas trágicas outras nem tanto, cheias humor e ironia, criadas durante uma viagem de vinte horas em liteira, entre Ovelhinha «póvoa escondida nos fraguedos do Marão», e o Porto, os dois passageiros, dois amigos, o dono António Joaquim e o narrador, constroem um retrato vibrante de uma sociedade rural do último quartel do século XIX.

Como refere o prefaciador deste volume da coleção “Obras Escolhidas de Camilo Castelo branco” publicada pelo jornal Expresso, Mário Cláudio:

Os dezasseis relatos, seguidos de «conclusão» e «epílogo», que constituem esta coletânea procedem sobre um espírito de um impulso digressivo, quer por se inscreverem numa viagem, quer por conterem substância decorrente de múltiplas peregrinações, levadas a cabo pelos seus intervenientes. Se a isto ajuntarmos a constante divagação coloquial do narrador e do ouvinte que de quando em quando o interrompe, teremos esboçado um espetáculo de imparáveis dinâmicas, cridas pelo engenho febril do seu verdadeiro encenador.”

Aprecio e aprendo sempre muito com a riqueza e singularidade do léxico e da sintaxe do escritor:

Este rapaz, que é velho hoje, e se chama Lourenço Pires, foi no seu tempo um gentil mocetão, tocava clarinete nas chulatas, era o benquisto das malhadas e escapadelas, homem para o seu homem, estimado das raparigas, e amado de algumas, que, por amor dele, se fingiram endiabradas para não casarem à vontade dos pais.
Rimos também dos que se amiseram e descabelam, porque a sua dama os desdenha desamoravelmente ou porque as contingências da vida os estorvam de se enlaçarem com as pombas que os anjos lhes mandaram e as boízes dos homens lhes prenderam.”

Antevendo um ano dedicado ao estudo de matérias aduaneiras e fiscais, procurarei intervalar com a leitura dos nossos melhores, por agora resta-me convidar-vos para esta viagem prazerosa em liteira… 


2 comentários:

  1. A leitura de Camilo Castelo Branco é sempre revigorante e imune à passagem do tempo. Pena que seja uma obra tão mal divulgada e com tão poucas edições de qualidade.

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  2. Tenho apreciado muito descobrir os nossos clássicos, intercalo-los com leituras de autores mais contemporâneos.
    Tento com as publicações que faço divulgar e provocar potenciais leitores.
    Como uma espécie de demanda pessoal.
    Não sigo agendas de ninguém, sou livre, afinal nasci num dia 25 de abril...
    Pena que outros, às vezes, não entendam o que publico.
    Obrigada, pelo seu comentário.

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