quarta-feira, 21 de março de 2018

Porque hoje cantam-se os poetas,

“Eu cantarei um dia

Eu cantarei um dia da tristeza
Por uns termos tão ternos e saudosos,
Que deixem aos alegres invejosos
De chorarem o mal, que lhes não pesa.

Abrandarei das penhas a dureza,
Exalando suspiros tão queixosos,
Que jamais os rochedos cavernosos
Os repitam da mesma natureza.

Serras, penhascos, troncos, arvoredos,
Ave, fonte, montanha, flor, corrente,
Comigo hão-de chorara de amor, corrente,
Comigo hão-de chorar de amor enredos:

Mas ah! que adoro uma alma que não sente!
Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos,
Que eu derramo os meus ais inutilmente.”

Maria Teresa Horta
in “As Luzes de Leonor”, D. Quixote, 2011, pág. 245.

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