Enquanto
os ataques terroristas se sucediam em França, o interesse por esta obra de
Voltaire saiu da Academia onde é estudada há muito e veio para o grande público
francês, mas não só, através da comunicação social e das redes sociais.
A
partir de um acontecimento real relacionado com a morte de um jovem,
alegadamente perpetrada pelo próprio pai com a ajuda da mãe, do irmão e de um
amigo, por motivos religiosos, o que se vem a revelar um cruel erro judicial,
pois o jovem tinha cometido suicídio, também por questões religiosas, Voltaire
analisa e reflete sobre a tolerância e intolerância religiosas ao longo dos
tempos:
“Porque ou os juízes de Toulouse, levados
pelo fanatismo da populaça, fizeram supliciar na roda um pai de família
inocente, o que é sem exemplo; ou esse pai e a sua mulher estrangularam o seu
filho mais velho, ajudados neste parricídio por um outro filho e por um amigo,
o que é contrário à natureza. Num e noutro caso o abuso da mais santa das
religiões produziu um grande crime. É pois do interesse do género humano
examinar se a religião deve ser caridosa ou bárbara.”
Voltaire
discorre sobre o direito natural, “aquele
que a natureza indica a todos os homens”, e o direito humano, que “deve ser fundado, sem excepção, sobre o
direito da natureza” e sobre aquele que considera o grande princípio
universal que devemos seguir: «Não faças
aos outros o que não queres que te façam a ti», ele recua até ao tempo dos
gregos, dos romanos, dos primeiros cristãos, sem deixar de referir os povos que
compunham o mundo conhecido: chineses, indianos, egípcios, árabes, etc.
Voltaire
escreve:
“Assim é, pois, quando a natureza faz, pelo
seu lado, ouvir a sua voz doce e benfazeja, o fanatismo, esse inimigo da
natureza, faz, pelo seu lado, soltar urros, e quando a paz se apresenta aos
homens, a intolerância forja as suas armas.”
Clama:
“Ó vós, árbitros das nações, que haveis
dado a paz à Europa, escolhei entre o espírito pacífico e o espírito homicida!”
E
conclui:
“Há um edifício imenso
que eu [a
natureza], com as minhas próprias mãos,
construí os alicerces: era sólido e simples, todos os homens podiam entrar nele
sem temer nada; quiseram acrescentar-lhe os mais bizarros, os mais boçais e os
mais inúteis ornamentos; para onde quer que voltemos, o edifício cai em ruínas;
os homens agarram nas pedras e atiram-nas uns aos outros; eu bem lhe grito:
Parem com isso, afastai todo esse entulho funesto que é obra vossa, e ficai ao
pé de mim, em paz, no edifício inabalável que é o meu.”
Este
é um livro de apenas 153 páginas, mas, imenso de significado e reflexão.
Recomendo
vivamente a sua leitura, mas de uma forma conscienciosa, eu voltarei a ele com
certeza…
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