Necessitei de 81 dias para ler este romance, foi uma leitura desafiante, lenta, às vezes difícil, tudo por causa do léxico sertanejo, parece mesmo uma língua nova.
“Viver é muito perigoso… Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar concertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo.”
É preciso sentir um grande amor pelo seu país e ser muito corajoso, João Guimarães Rosa (1908-1967), médico, escritor, diplomata, poliglota, membro da Academia Brasileira de Letras (1963), para se propor a escrever um romance onde os personagens principais são jagunços, toda a ação decorra no Sertão Nordestino, onde a natureza impõe as regras, mas onde os grandes dilemas do homem também se colocam.
“O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado! E bala é um pedacinhozinho de metal.”
O personagem principal, também narrador, o jagunço Riobaldo/Tatarana/Urutú-Branco, conta a história de sua vida a alguém não identificado, atravessando as várias fases de sua vida, conta como se tornou um jagunço, as suas dúvidas existenciais, o amor, o sexo, a camaradagem, a forma como vê e sente a sua ligação ao Grande Sertão, as lutas entre fações, as tensão entre chefes de diferentes bandos de jagunços, centrando especialmente a sua narrativa em dois aspetos: a ligação a outro jagunço, Diadorim e a relação ambígua com o bem e o mal, chegará Riobaldo a fazer um pacto com o Diabo?
“Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso.”
Concluo a minha reflexão com o habitual convite para a leitura de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa…
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