Leio sempre com sofreguidão as obras de Maria Teresa
Horta (1937-), a sua poesia e sobretudo a sua prosa são gritos de dor ou
gemidos de prazer, são denúncias de maus tratos ou exaltações de paixão eterna,
anseio por chegar ao fim ou desejo que a leitura se prolongue até ao infinito.
A escrita de Maria Teresa é um sobressalto
constante, estonteia-nos, ora nos eleva ao céu, como nos obriga a descer ao
inferno.
Foi o que aconteceu com a leitura da obra, A Paixão
segundo Constança H.:
“Quando Henrique H. lhe dá a conhecer a sua
traição, a paixão de Constança transfigura-se. Em tempos que se desdobram e sobrepõem,
chegam-lhe do passado as queixas de uma trisavó sobre o marido todo-poderoso,
ao passo que da infância revive com nitidez os momentos mais dolorosos: o
abandono pela mãe, a sua primeira paixão, quase seguido da trágica morte da
avó, fonte única de afeto e segurança. O desejo de vingança vai-se assim
alimentando num clima obsessivo de loucura, sangue e morte.”
Esta leitura recordou-me outra que fizera há uns
bons anos, uma biografia de Maria Adelaide Coelho da Cunha, por Manuela Gonzaga (Círculo de Leitores, 2009):
“Doida Não
e Não” é um grito que atravessa os tempos, uma história de vida traçada com um
grande rigor histórico, solidamente ancorada em documentação coeva. Estamos nos
anos vinte, quando o princípio da liberdade de imprensa se assumia em Portugal,
uma conquista que só será renovada em 1974. Mas este retrato biográfico da
«senhora de São Vicente», filha mais velha e herdeira do fundador e coproprietário
do Diário de Notícias, o jornalista Eduardo Coelho, e mulher de Alfredo da
Cunha, também jornalista, é, acima de tudo, o testemunho da vontade indómita de
uma mulher que tudo arriscou por amor. E que, quando todas as outras lhe foram
retiradas, recorreu à mais letal das armas: a palavra escrita.”
Os livros são assim, a leitura de uns conduz-nos
a outros, numas vezes que já lemos, noutras que queremos ainda ler.
Para finalizar, convido-vos a ler as duas obras: A
Paixão segundo Constança H, de Maria Teresa Horta e Doida Não e Não,
de Manuela Gonzaga.