Instrumento de sombras
coração, instrumento de sombras
e silêncios vibrantes, coração que te destróis
na turvação da alma
de que matéria é feita a lucidez com que
palpitas
e sabes o que vai acontecer?
rente às águas fluviais, a neblina é mais
espessa
entre os choupos de inverno
também o amor é uma arte do tempo, uma
melodia delgada e frágil instalada em novembro,
tocada num instrumento de sombras
e pressentimentos, na indecisa fronteira
entre a vida e a morte, um dia
a chuva
há-de diluir tudo
na sua música, nas cadências da sua
lenta anestesia.
Vasco Graça Moura
In Poesia Reunida, Quetzal, 2012.
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